O homem acusado de ser um impostor ao fazer a
interpretação para a língua de sinais dos discursos de autoridades durante
homenagem ao ex-líder sul-africano Nelson Mandela na terça-feira (10), no
estádio Soccer City, em Johanesburgo, afirma que estava "alucinando e
ouvindo vozes", informou o jornal local "The Star".
Thamsanqa Jantjie disse ao jornal que sofreu um
"episódio esquizofrênico" enquanto estava no palco durante o evento.
"Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava sozinho em uma situação
muito perigosa", contou.
Tentei me controlar e não mostrar ao mundo o que estava
ocorrendo. Peço desculpas."
Jantjie alega ter as qualificações para atuar como
intérprete de língua de sinais, e disse trabalhar para uma empresa que o pagou
US$ 85 para sua atuação no evento de terça.
O homem disse não saber se foi a magnitude do evento ou a
alegria por participar da homenagem a Mandela que disparou o ataque
esquizofrênico no palco. De repente, ele disse ter perdido a concentração,
começou a ouvir vozes e a alucinar.
Jantjie contou que, apesar disso, ele não conseguia sair
do palco – por isso, continuou fazendo gestos, apesar de não terem sentido. As
alucinações fizeram com que o homem não conseguisse ouvir o que era falado e,
consequentemente, interpretar as frases para a língua de sinais.
"A vida é injusta. Essa doença é injusta. Qualquer
um que não entenda essa doença vai pensar que eu estou inventando tudo."
Segundo o jornal, fotos e documentos mostrados pelo homem
confirmam que ele trabalha como intérprete – há imagens dele em diversos
eventos ao lado de várias pessoas, incluindo o presidente da África do Sul,
Jacob Zuma.
Em entrevista em uma rádio, Jantjie se disse satisfeito
com seu desempenho na cerimônia e não respondeu às críticas recebidas.
"Absolutamente, absolutamente. Acho que sou um campeão da linguagem de
sinais", afirmou ele à emissora Talk Radio 702.
Procurado pela Reuters, ele disse não entender por que as
pessoas estão se queixando só agora, e não em outros trabalhos seus. "Não
sou um fracasso. Eu cumpro", disse ele, antes de desligar.
Jantjie disse trabalhar para uma empresa chamada SA
Interpreters, contratada pelo partido governista CNA para a cerimônia de
terça-feira.
O CNA também disse desconhecer Jantjie, mas prometeu uma
investigação. "Estou muitíssimo surpreso", disse o porta-voz do
partido, Jackson Mthembu. "Vamos acompanhar isso. Não temos certeza se há
algo de verdade no que ele disse."
Líderes mundiais
Jantjie foi visto por todo o mundo na TV próximo a
líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Mais de
100 lideranças globais participaram do evento, incluindo a presidente Dilma
Rousseff.
A tradutora oficial para língua de sinais Nicole Du Toit,
que estava acompanhando a transmissão pela TV, falou por telefone que o homem
que estava fazendo a tradução parecia constrangido.
"Foi horrível, um absoluto circo, muito, muito
ruim", disse ela. "Só ele pode entender seus gestos", afirmou.
Integrante do Parlamento da África do Sul, Wilma
Newhoudt, que também é surda, falou que o tradutor não comunicava nada com suas
mãos e braços.
Especialistas em língua de sinais disseram que Jantjie
não estava fazendo a tradução dos discursos nem para o africâner, nem para o
inglês.
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