Matéria da Folha de São Paulo, por ALEXANDRE SCHMIDT DE
AMORIM, 24, administrador, é um dos fundadores da Asid (Ação Social para a
Igualdade das Diferenças) e vencedor do Prêmio Folha Empreendedor Social de
Futuro 2013
O debate sobre a inclusão de pessoas com deficiência no
ensino regular e a eliminação, ou não, das escolas especiais exige cautela, e
não radicalismos. É justamente desse tema que trata a meta 4 do Plano Nacional
de Educação.
A educação especial impacta 820.400 estudantes no Brasil
(Censo Escolar, 2012). Hoje, 25% (199.656) deles estão nas instituições
especiais. O número é grande e, por isso, antes de qualquer decisão política, é
preciso saber quem são esses alunos, o que eles precisam e onde eles podem ser
melhor atendidos.
Os pontos de análise são o preparo do ensino regular para
receber alunos com deficiência, o papel das escolas especiais e a
sociabilização.
De forma prática, a inclusão não é possível e positiva
para todos. Existem diferentes tipos de deficiências --algumas em que a idade
mental não passa de um ano e outras em que a possibilidade de aprendizagem é
maior. É preciso estar pronto para lidar com cada uma delas, em seus diferentes
níveis.
Em primeiro lugar, o ensino regular precisa ser melhor
preparado para receber os alunos com deficiência que tenham potencial de
inclusão. Os esforços públicos devem ir além do investimento em estrutura
física. Precisam capacitar o professor, disponibilizar em número suficiente
profissionais de apoio e orientar os demais alunos. Acompanhamos muitos casos,
em todo o país, de alunos que saem de escolas especiais e têm como maior
impeditivo no ensino regular não a estrutura física, mas o preconceito.
Em segundo lugar, precisamos entender que as mais de
4.000 escolas especiais no país desempenham papel fundamental para o deficiente
que não acompanha o currículo regular. Essas instituições trabalham dentro dos
potenciais do indivíduo e com o acompanhamento de que ele necessita.
Sabemos que, na prática, o professor do ensino regular
não pode diminuir o ritmo de aula em função de um aluno. Por isso o
fortalecimento das escolas especiais é fator de sucesso para o desenvolvimento
pleno da pessoa com deficiência. No caso dessas escolas, o investimento deve
ser aplicado na infraestrutura, aí sim o maior limitador de crescimento e
causador da longa fila de espera.
O terceiro ponto, a socialização, deve se dar no ensino
regular e no especial. É um fator decisivo no processo de inclusão. As práticas
que promovem o relacionamento dos alunos de escolas especiais com os das
regulares devem ser valorizadas e replicadas, uma vez que diminuem o
preconceito e ajudam no desenvolvimento de todos.
Do mesmo modo, a sociedade deve ser foco de campanhas que
levem à compreensão da deficiência, dando oportunidades de atuação para o
deficiente, como o mercado de trabalho, esporte e atividades culturais.
Ao poder público, cabe apoiar a orientação das famílias
que têm filho com deficiência, garantindo informação e formação para os
parentes, tantas vezes esquecidos.
Com o trabalho nas três frentes, de forma integrada com o
poder público, a pessoa com deficiência se desenvolverá dentro das suas
potencialidades e será integrada como alguém capaz de exercer uma função útil
em busca de seus objetivos.
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