Físico é um dos responsáveis pela teoria moderna sobre
buracos negros.
Para especialistas, proposta é plausível, porém radical.
Um artigo publicado pelo físico Stephen Hawking na última
semana tem provocado burburinho no mundo científico. Sendo ele próprio um dos
criadores da teoria moderna sobre os buracos negros, ele afirmou no artigo que
o fenômeno pode não existir.
O cientista parte da ideia de que a teoria corrente por
trás dos buracos negros não se confirma sob a ótica da teoria quântica, somente
sob a ótica da relatividade. Ele disse à revista “Nature” que, enquanto a
teoria clássica afirma que não há como escapar de um buraco negro, a teoria
quântica “permite que energia e informação escapem de um buraco negro”.
A teoria clássica, citada por Hawking, prevê a existência
de um “horizonte de eventos” no buraco negro. Trata-se de uma região próxima de
um buraco negro na qual a gravidade é tão forte que nada consegue escapar, nem
mesmo a luz. É justamente a existência desse fenômeno que é contestada pelo
físico em seu novo artigo.
“A ausência de um horizonte de eventos significa que não
há buracos negros – no sentido de regimes dos quais a luz não pode escapar para
o infinito”, diz o artigo de Hawking.
Firewall
Há cerca de um ano e meio, cientistas do Instituto Kavli
de Física Teórica, em Santa Barbara, nos Estados Unidos, já haviam proposto uma
teoria que levava em conta as regras da mecânica quântica – que rege o
comportamento de partículas minúsculas como moléculas, átomos e elétrons –
sobre a ação dos buracos negros.
Enquanto a teoria clássica defende que um objeto, ao
passar pelo horizonte de eventos, é “sugado” de forma suave para dentro do
buraco negro, a teoria formulada no Instituto Kavli defende que, ao atingir o
horizonte de eventos, o objeto seria imediatamente reduzido a seus elementos
fundamentais e, na prática, dissolvido. Isso por causa da presença de uma
região altamente energética, batizada pelos cientistas de “firewall”.
Inspiração
A ideia para o artigo de Hawking, segundo a revista
“Nature”, surgiu depois de uma conferência que Hawking fez via Skype em agosto
de 2013 em uma reunião sobre "firewalls" organizada pelo Instituto
Kavli. O físico propõe uma ideia que seja consistente tanto com a teoria
quântica quanto com a relatividade.
Hawking descreve no artigo que o que existe no buraco
negro não é nem o horizonte de eventos nem o "firewall", mas um
“horizonte aparente”. Esse fenômeno seria capaz de reter e manter a matéria
temporariamente, com a possibilidade de liberá-la posteriormente, porém em um
formato totalmente distorcido e "bagunçado".
“O objeto caótico em colapso irá irradiar de forma
determinística, porém caótica. Será como a previsão do tempo na Terra. Ela é
determinada, mas caótica, então há perda efetiva de informação. Não é possível
prever o clima com mais de alguns dias de antecedência”, compara Hawking, na
conclusão de seu artigo.
Em entrevista à “Nature”, o físico Don Page, especialista
em buracos negros da Universidade de Alberta, no Canadá, afirma que a nova
teoria de Hawking é plausível, porém radical ao apresentar a possibilidade de
que “qualquer coisa, em princípio, poderia sair de um buraco negro”.
O artigo de Hawking, foi publicado na quarta-feira
passada (22) na plataforma "ArXiv.org", arquivo online mantido pela
Universidade de Cornell para artigos científicos nas áreas de física,
matemática, ciência da computação, biologia, finanças e estatística. O título,
"Preservação de informações e previsão do tempo para buracos negros”,
brinca com a dificuldade de se prever o clima, citada pelo físico no texto do
artigo.
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