Quatro anos atrás, devido a uma série de limitações
decorrentes de um acidente de carro que a deixou paraplégica, a estilista
Michele Simões, de 32 anos, não conseguia nem ficar sentada. Agora, ela se
prepara para superar seus limites e sair do país sozinha com sua cadeira de
rodas, para estudar inglês no Canadá e relatar sua experiência a outras pessoas
com deficiência.
Michele é autora do blog Guia do Viajante Cadeirante, onde
escreve sobre seus passeios acessíveis dentro e fora do Brasil, e fez um vídeo
contando sobre os planos da viagem ao Canadá.
Ela criou o blog há um ano, após um intercâmbio de três
meses em Boston (leia mais sobre a viagem nesta reportagem). Até então, tinha
dificuldade até para se locomover poucos metros além da sua casa em São Paulo.
Nos EUA, numa cidade bem mais acessível, recuperou muito de sua independência.
“A viagem me fez renascer. Fiquei muito mais forte. Me senti
capaz de novo, porque voltei a fazer tudo: frequentar a rua, viver em
sociedade. Minha maior descoberta é que a deficiência não estava comigo, estava
com meu país, que não é acessível. Percebi que meu limite era eu quem daria”,
diz.
Além das facilidades arquitetônicas, ela também notou
diferença na forma como era tratada. “As pessoas não ficam com pena. Ninguém
ficava me olhando, como aqui. Eles têm muito senso de dever, ajudam quem
precisa, mas não te inferiorizam”, diz.
Na época, seu namorado, Thiago, a acompanhou boa parte do
tempo. Agora, ela vai sozinha -- “só eu, minha cadeira de rodas e Deus”,
brinca. O voo está marcado para o dia 4 de outubro.
Michele vai morar em Montreal – uma cidade com bastante
acessibilidade, segundo suas pesquisas em conjunto com a agência de viagens. “O
metrô não é muito acessível, mas tem ônibus adaptados e até ônibus especiais
para levar cadeirantes que buscam a pessoa em casa”, afirma ela, que também
pretende visitar Toronto.
Para recebê-la melhor, a escola onde ela vai estudar pediu
as medidas de sua cadeira de rodas para colocá-la em uma mesa confortável e do
tamanho correto.
Ela vai se hospedar em um hotel que também está adaptado às
suas necessidades. “Alguns hotéis colocam um banquinho dentro da banheira e
dizem que são adaptados. No caso de uma lesão como a minha, em que não tenho
equilíbrio de tronco, é impossível tomar banho assim”, exemplifica.
Em Boston, ela conheceu um hospital de reabilitação que é
referência mundial e fez outros passeios adaptados para contar no blog. Agora,
um dos lugares que ela quer conhecer no Canadá é um restaurante em que todos os
funcionários são surdos. Ela também fará os programas turísticos tradicionais,
para mostrar o que é e o que não é adaptado. “Quero ir como uma 'olheira', para
mostrar o que dá para a gente fazer, o que não dá. Quero motivar as pessoas a
viajar”, diz.
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