Bruno (no centro) comemora o resultado que obteve no Enem com o irmão, Samuel, e a mãe, Lúcia
Bruno Santos Martins, 22 anos, obteve 280 pontos na redação e 567 em ciências humanas
Enquanto mais de meio milhão de estudantes em todo o país zeraram a
prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano,
Bruno Santos Martins, 22 anos, que tem deficiência intelectual,
conseguiu atingir 280 pontos. Um exemplo de que, apesar das limitações, é
possível correr atrás dos sonhos.
Na avaliação de ciências humanas, ele alcançou a nota de 567,7,
desempenho superior a média nacional, que ficou em 546 nessa área de
conhecimento.
“Meu sonho é fazer faculdade de Direito. Advogar é uma profissão que
admiro muito”, diz o estudante que também concluiu em 2014 o curso
técnico em Segurança do Trabalho.
Bruno conseguiu ainda as notas de 430,2 em ciências da natureza e 449,6 em linguagens e códigos.
De acordo com a assistente de Educação Infantil e mãe de Bruno, Lucia
Maria dos Santos Martins, ele não criou uma rotina específica de estudo.
“Ele sempre gostou muito de ler jornais, revistas, sites, conteúdo
ligado ao cinema e isso o ajudou muito na hora de enfrentar o teste”.
Em 2013 o desempenho do estudante não foi o mesmo. “Neste ano fiz a
prova com mais calma. Os monitores não puseram pressão e esclareceram
minhas dúvidas”, conta o estudante.
Genética
Lucia explica que assim como seus outros dois filhos, entre eles Samuel,
Bruno foi diagnosticado muito cedo com deficiência intelectual
congênita ligada ao cromossomo X. Ela afirma que sente orgulho do
desempenho do filho. “Estamos colhendo fruto de muita dedicação. Estamos
felizes”, disse emocionada.
Essa deficiência, de acordo com a psicóloga e coordenadora do Curso de
Psicologia da Universidade de Vila Velha (UVV) Luciana Bicalho, causa um
retardo no desenvolvimento cognitivo, limitando a capacidade de
julgamento, o raciocínio verbal e lógico, hipotético e dedutivo, além da
capacidade de autocuidado, relacionamento interpessoal, entre outros
fatores.
“Mas isso não significa ausência de inteligência. Há relatos de pessoas
com deficiência intelectual que fazem faculdade. Elas precisam de
acompanhamento multidisciplinar com fonoaudiólogo, psicopedagogo,
terapeuta para se desenvolverem e assim conseguirem avançar”,
esclarece.
Bruno frequenta a Apae de Laranjeiras, na Serra, onde participa de
diversas atividades artísticas, como ir ao cinema, desenhar, pintar e
produzir produtos artesanais. “Com isso, eles desenvolvem a autonomia
para decidir entre uma coisa e outra, fundamental para o desenvolvimento
intelectual e social”, explica a orientadora Patricia Andrade Costa.
Mãe queria cotas para deficientes
Apesar do desempenho do filho Bruno Santos Martins, 22 anos, no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, a assistente de educação
infantil Lucia Maria dos Santos está descontente. Segundo ela, o exame
em si é excludente.
“O Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para
Todos (ProUni) e do Programa Nossa Bolsa não pretendem o ingresso de
deficientes intelectuais. Nem as cotas contemplam as pessoas nessas
condições”, explica.
Além disso, ela ressalta que os critérios do processo seletivo do Enem
não fazem distinção entre deficientes intelectuais e não-deficientes.
“Considerando as limitações do meu filho, seu desempenho é similar aos
que tiveram boas notas. Ou seja, a pontuação mínima exigida pelo Enem
deveria ser diferente para deficientes intelectuais. Ou nossos filhos
estão fadados a serem embaladores e repositores de supermercados?”,
desabafa.
Fonte: A Gazeta e Vida independente
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