sexta-feira, 6 de março de 2015

Surdos com nota mil no Enem

Por José Petrola

Nesta edição do Enem, vários candidatos com algum tipo de deficiência auditiva se destacaram por ter notas altas na prova de redação. A acreana Oziany Lindoso, 33 anos, esteve entre os 250 únicos candidatos a alcançarem a pontuação máxima – nota mil na redação (http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/01/fiz-so-para-testar-diz-acreana-surda-nota-mil-na-redacao-do-enem.html)Outro candidato vencedor foi o garoto Cezar Vitor Pinheiro, de 14 anos, também surdo oralizado, na cidade de São Sebastião do Maranhão (MG), no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do Estado(http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/2015/01/1576782-garoto-surdo-de-14-anos-alcanca-nota-mil-no-enem.shtml) . Não se trata de superar a surdez. Ela continua existindo, é uma característica da pessoa – mas não torna ninguém incapaz.

Em primeiro lugar, isto mostra que pessoas com deficiência também são capazes e muitas vezes se destacam – desde que, na avaliação, não se veja a “cara” do candidato, como ocorre em vestibulares, concursos públicos e outras provas. O que também serve como uma medida do preconceito existente na sociedade.

Isto também desmente um mito sobre a incapacidade dos surdos de aprenderem a se expressar corretamente em português. É comum que surdos usuários de Libras aleguem que, para eles, a redação deveria ser corrigida com critérios diferentes, devido à maior dificuldade que têm para aprender o português (http://www.ebc.com.br/educacao/2014/11/estudantes-surdos-tem-dificuldade-para-se-preparar-para-o-enem Isto pode até ser válido para os surdos sinalizados, mas não para os oralizados.

Um ponto em comum entre os surdos que conseguiram boas notas no Enem é que todos tiveram de enfrentar preconceito na escola, em maior ou menor grau, porém contaram com professores compreensivos, que procuraram tornar suas aulas mais acessíveis. Pequenas mudanças, como colocar o aluno surdo na fileira da frente e dar as explicações sempre de frente para os alunos, em vez de olhar para o quadro-negro, fazem toda a diferença.

Outro fator que contribuiu para estes sucessos no Enem foi a intimidade com a leitura. Para quem tem alguma dificuldade de audição, o texto escrito acaba se tornando uma espécie de porto seguro, e isto é muito importante. Só pode escrever uma boa redação alguém que lê muito e vê a linguagem escrita como uma aliada.

O importante agora é que estes jovens continuem chutando a porta do preconceito em suas vidas, pois a inclusão só será possível com muitos Cezares e Ozianys brigando por seus direitos.

Fonte: Guia Inclusivo

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