Deu no Blog Mães de peito
Um menino de nove anos foi impedido de brincar em uma área de lazer
montada dentro de um shopping em Barueri, na Grande São Paulo, no último
final de semana de julho. A mãe diz que o filho foi vítima de
preconceito e discriminação pois tem síndrome de Down.
A mãe de
João Pedro, a jornalista Nelci Groff, 50, conta que passeava com o
filho quando ele avistou um espaço de lazer instalado no shopping
Tamboré. Além de vários brinquedos, o local tinha alguns equipamentos
eletrônicos, jogos, entre outras atividades. Lá, assim como ocorre em
vários centros comerciais, os pais pagam um pacote de minutos ou horas
para os filhos brincarem. Ao entrar no espaço, a criança é identificada
com uma pulseira e é acompanhada por monitores treinados.
Ela
conta que o filho ao ver a novidade abriu um sorriso e pediu para
brincar ali onde estavam várias crianças. “Me dirigi ao balcão para
pagar e ele já estava tirando o sapatos pois sabe que sempre entra
descalço nestes locais. Uma atendente me falou que ele não poderia
entrar e ao questionar o motivo dela disse ‘ele é especial, não pode
entrar’”.
Nelci disse que argumentou que o caso era um preconceito
e que é considerado crime. “Ela me pediu desculpas e disse que apenas
cumpria ordens da gerência”, relata. O espaço de lazer é da empresa Toy
Company Diversões que, em sua página no Facebook, relatou que nunca
recusou a entrada de qualquer criança e que pode ter havido “um mal
entendido” e um possível erro de uma colaboradora em um caso isolado
(leia mais abaixo).
Nelci conta que as crianças maiores de dois
anos ficam no espaço sozinhas, sem o acompanhamento dos pais. Em
seguida, a funcionária disse que João só entraria se ela entrasse junto.
“Tentei argumentar que ele tem nove anos, é independente, frequenta uma
escola regular, não possui dificuldades de locomoção, convive muito bem
socialmente, fala e se expressa bem”, conta a mãe.
Nelci, que
também é mãe de um adolescente de 16 anos, diz que nunca diferenciou os
filhos e que eles sempre fizeram as mesmas atividades e frequentam a
mesma escola e lugares. Ela conta que o João Pedro também faz capoeira
desde os três anos e que na escola está aprendendo a tocar violão.
João
Pedro ouviu a atendente dizer que não poderia entrar e questionou a mãe
com um rosto triste: “mamãe, por que não posso brincar?”. Nelci diz que
por alguns minutos não sabia o que responder e ele insistia: “Fala
mamãe, por que não posso brincar?”.
Revoltada, Nelci saiu do local
com o filho e, sem saber o que falar, acabou mentindo para ele. “Falei
que o shopping ia fechar e que outro dia a gente voltava. Ele
continuou, como toda criança faria, insistindo pedindo ‘mas, só um
pouquinho mamãe’”, diz a jornalista, que voltou para casa com uma
sensação de impotência por não conseguir permitir que o filho brincasse
como as demais crianças.
Após fazer um desabafo nas redes sociais,
Nelci conta que foi procurada por várias mães que relataram que também
já passaram por situações constrangedoras com os filhos. “Até quando não
teremos inclusão para as nossas crianças?”, questiona.
OUTRO LADO
Procurado,
o shopping informou que lamenta o ocorrido e que os responsáveis pelo
espaço de lazer serão notificados. “O empreendimento está em contato com
a família desde o ocorrido e presta todo apoio a eles, que são sempre
bem-vindos em nosso shopping, onde esperamos revê-los em breve para que
possam se divertir em nossas atrações”, diz nota enviada pela assessoria
de imprensa.
Procurada pela reportagem, a empresa disse que é
possível que tenha havido um mal entendido com a cliente, mas que o caso
foi isolado. O diretor geral da Toy Company, Mauro Meinerz, diz que não
faz parte da política da empresa restringir crianças com Down ou com
qualquer outra deficiência.
O diretor diz que entrou em contato
com a cliente e explicou que a política da empresa não é barrar nenhuma
criança. “Temos plena consciência que crianças especiais sentem a mesma
necessidade [senão maior] de diversão que as outras crianças”, diz o
diretor.
Meinerz afirma ainda que já se desculpou com a cliente por conta da situação ocorrida em um dos seus espaços de lazer.
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