Dr. Ana Escobar do G1
Ao longo da semana passada todos puderam ver as imagens de um segurança de uma escola americana algemando pelas costas um menino de 8 anos
com TDAH, porque “não parava quieto”. As imagens chocaram. Por várias
razões. Tanto pela agressividade injustificada do ato em si, mas também
pela demonstração explícita da mais elevada ignorância.
O segurança energúmeno extrapolou todos os limites do conhecimento
científico. Trabalhando em uma escola, com crianças pequenas, isso é
absolutamente injustificável. Veja como é fácil entender.
Alguém
poderia imaginar um segurança algemando uma criança com crise de asma e
dizendo para ela simplesmente “parar de chiar”? Como se as algemas
tivessem o poder mágico de interferir na constituição genética das
pessoas!!!
Simples assim. O TDAH tem uma forte predisposição
genética. Isso significa que não há ainda um único gene responsabilizado
como causa. Estudos demonstram que muito certamente vários genes podem
estar envolvidos, associados a condições ambientais multifatoriais.
Familiares de portadores são de 2 a 10 vezes mais acometidos que a
população geral.
Fato é que estes genes determinam uma alteração
na liberação e captação de neurotransmissores (principalmente
noradrenalina e dopamina) na região frontal e suas conexões com o
cérebro, transtornando as informações entre as células nervosas, que são
os neurônios. Resultado: os comandos de inibição de comportamentos
impulsivos ficam prejudicados. Por isso as crianças “não param quietas” e
perdem sua capacidade de prestar atenção, de autocontrole, de memória,
de planejamento e de organização.
Algemas “curam” a liberação
geneticamente determinada de neurotransmissores? Óbvio que não. Alguém
que avise urgentemente isso ao segurança.
Existe tratamento?
Sim. E é muito eficaz. Principalmente quando executado por todos os que
cercam as crianças com TDAH. Isso quer dizer pais, amigos, familiares,
educadores e quem não é nada disso mas está próximo a uma criança
portadora, como um segurança de escola, por exemplo.
A ignorância pode ser a pior e a mais letal arma de agressão.
Crédito da imagem: Reprodução/TV Globo
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