A jornalista Melanie Reid ficou paralisada em um acidente de cavalo há cinco anos.
A casa de Melanie, autora da coluna Spinal Column no jornal britânico The Times, fica escondida no interior da Escócia.
Apesar de o acidente a ter deixado com movimento mínimos nos braços e
nas pernas, a casa permanece sem adaptações que costumam ser
consideradas úteis para deficientes: não há bancadas baixas na cozinha
ou tomadas adaptadas.
Reid acha que fazer essas mudanças significaria que ela aceitou sua deficiência – e ela continua lutando para superá-la.
Há cinco anos, Reid tinha chegado ao ponto exato de sua vida em que,
diz ela, queria estar, fazendo exatamente o que queria fazer.
Era um jornalista de sucesso, com um marido carinhoso e um filho que
estava indo bem na vida. Eles se mudaram para uma casa no campo, com uma
bela vista e estábulos para os seus amados cavalos.
Reid era quem costumava pensar no futuro e liderar – era conhecida como uma mulher prática, resolvedora de problemas.
Acidente
Foi cavalgando que o acidente aconteceu.
Galopando em direção a um obstáculo, o cavalo empacou. Ela tentou se
agarrar ao pescoço dele, mas foi jogada para o alto e caiu sobre o
obstáculo com os braços para trás. Seu rosto bateu no chão e o corpo foi
torcido.
Quem viu o acidente diz que a queda pareceu inofensiva e em câmera
lenta. Ela não perdeu consciência e diz que experimentou sensações
inacreditáveis no momento.
"Senti calor e beleza em meu corpo, e vi um brilho vermelho em meus olhos. Era o computador desligando", diz.
Ela passou quase um ano no hospital, trabalhando com determinação para
ganhar o máximo de movimento possível. A ideia para a nova coluna no
jornal de fim de semana foi concebida durante uma ressonância magnética.
"Preciso contar para as pessoas sobre isso, preciso descrever isso", ela lembra de pensar.
Escrever sobre a sua deficiência, frustrações e batalhas para fazer
atividades diárias virou uma forma de terapia. Ela diz que também foi
uma forma de recuperar parte de seu poder, até porque ela precisava
pagar as contas – Reid sempre foi o arrimo da família.
'Presa'
Ela sabe que declarar publicamente que não consegue aceitar suas
limitações físicas irrita e casa indignação entre alguns de seus
leitores deficientes, e diz que eles se ressentem dela, porque diz que
lamenta "estar presa à deficiência".
Ela já escreveu sobre as sessões de fisioterapia constantes que
permitiram que ela arrastasse seus pés por alguns passos, e sabe que
alguns deficientes se sentiram traídos, como se não estivessem se
esforçando suficientemente.
"Alguns têm a sensação de que estou decepcionando por 'ser uma pessoa que anda'", diz ela.
A ruptura na espinha de Reid não foi completa, o que significa que ela
tem algum movimento no corpo, e vive com o que chama de "tortura da
possibilidade" todo dia.
Ela se pergunta por que não consegue se mover um pouquinho mais, ou
melhorar um pouco mais, e imagina que as pessoas com lesões completas na
coluna não precisam viver com essa tortura.
Pouco depois do acidente, Reid reconheceu que não poderia mais ser a
"resolvedora de problemas" da família. Ela diz que o marido Dave, que
era o divertido, teve que assumir o papel dela. Foi uma grande mudança.
'Pedaço de carne'
Reid deu a Dave a chance de desfazer o casamento. Reid disse que ele
poderia ficar com outra mulher, alguém que pudesse fazer sexo com ele,
alguém para conversas e ser feliz, alguém que não fosse apenas "um
pedaço de carne". Ele respondeu: "Não seja idiota. Não vou a lugar
nenhum."
Ele também sentiu grande parte da perda e sofrimento de Reid, admitindo
que, às vezes, ficava triste vendo um casal caminhando na rua.
De forma semelhante, ela pediu que o filho se afastasse, para evitar
que se sentisse preso. Agora, ele mora na Nova Zelândia, e Reid tenta
não escrever e só fala com ele quando está tendo um dia ruim. Ela quer
que ele pensa nela como "a mãe que conseguia fazer as coisas".
Reid pensou que não haveria mais assunto para a sua coluna quando
voltasse para casa, mas devido à demanda popular continua escrevendo.
Ela acha difícil falar sobre qualquer coisa positiva que tenha decorrido do acidente.
Para ela, continuar sendo a mulher teimosa em sua casa não adaptada é,
no momento, muito importante. Mas ela não descarta algumas mudanças no
futuro, talvez quando tiver selado a paz com a própria deficiência.
FONTE-G1 e BBC
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