Não era apenas um desejo de sentir bonita e atraente. Era algo além. Em 2013 Eugênia sofreu uma fratura na coluna após uma queda. Desde que começou a se locomover faz o máximo para ter uma vida como tinha antes do acidente. Da cadeira de rodas que usou no início até as muletas de hoje, foi possível perceber que a seu esforço não impediria o constante preconceito de outras pessoas. “Eu ouvia frases como ‘é tão bonitinha, mas está na cadeira de rodas’, como se isso fizesse sumir a minha beleza”, afirma. “O ensaio veio no momento certo. Essa história de que ‘é bonita mas deficiente’ não existe”.
Ela mostrou
isso. Não só para quem a enxergava como a “coitadinha”, mas para quem,
assim como ela, precisa conviver com isso diariamente. “É possível ser
mais confiante, ser mais segura de si. Não é todo dia que me produzo
como me produzi para o ensaio, percebi que posso ser um mulherão quando
eu quiser”, afirma. Para ela a sensualidade presente nas imagens
funciona como sustentação para algo que vai além. “Para mim o ensaio foi
maior que isso. Foi uma forma de incentivar as outras mulheres em
situações semelhantes a minha”.
.
“Muitos perguntaram se eu não iria fazer uma cirurgia para tirar a cicatriz. Hoje considero a minha cicatriz um troféu”
Maria Eugênia
Mulheres com deficiência vistas
muito além de suas limitações. A deficiência física, em si, enxergada
como uma condição. Sem preconceitos e sem significar um impedimento para
sentir-se bem com o próprio corpo. Esses dois princípios norteiam o
Projeto Dália, iniciado em abril de 2015 pela fotógrafa Carol Lopes.
Dália é como sua
mãe, Acidália, era conhecida. Dela veio a inspiração – não só do nome.
Ela faleceu há dez anos, vítima de um câncer que, de início, lhe impôs
uma amputação e lhe tirou a perna. Mesmo após o procedimento, e
batalhando contra a enfermidade, sempre exaltava a necessidade de manter
a autoestima em dia. “Ela passou dois anos amputada antes de falecer.
Mas sempre enfatizou a importância de se valorizar. Continuou a ser
vaidosa. Esse projeto seria algo que minha mãe gostaria que fosse feito
para estimular outras mulheres”, explica Carol.
A enfermeira Elisangela Czekalski
foi mais uma participante do Dália. Acometida por uma lesão que atingiu
toda a estrutura do Sistema Nervoso Central, sem chances de regeneração.
Hoje é considerada paraplégica, mas já consegue andar, ainda que com
dificuldade. “Muitas vezes escuto as pessoas falarem que perdi muito
tempo da minha vida nesses quase 7 anos, mas digo que não, pois o tempo é
algo completamente subjetivo. O importante é viver o hoje, o agora, e
sei que o amanhã pode não existir”, declarou no material de divulgação
do próprio ensaio.
Por diversas vezes, Carol trabalhou com fotografia Boudoir,
definição dada às fotografias sensuais. Sempre percebeu que a principal
razão da busca das mulheres por esse tipo de fotografia era a
autoestima. Em nome da mãe, buscou oferecer o trabalho a mulheres com
limitações físicas. “São mulheres que estão travando uma luta com o seu
corpo e que se esforçam ainda mais para ter segurança de suas imagens”,
afirma.
“O projeto acaba sendo um tapa na cara de quem pensa que mulheres deficientes não podem ser sensuais”
Carol Lopes
.
Além da
autoestima das mulheres, Carol enxergou no projeto uma forma de combater
o preconceito. “Há uma espécie de barreira que não mistura sensualidade
e deficiência. Para muitos, as transformações no corpo provenientes de
doença ou acidente impedem a mulher de paquerar ou de ser sensual”,
relata.
Por ter sido
aprovada numa escola de fotografia na cidade de Montpellier, na França,
Carol deixou o Recife. Lá, dá continuidade à homenagem a Dália. “Muitas
pessoas aqui na França elogiaram o projeto e tenho o objetivo de dar
continuidade por aqui e também quando voltar de férias ao Brasil”.
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