Do G1
Nicole Cristina de Melo, de 22 anos, teve uma gestação tranquila - a
única situação fora do comum foram as manchas vermelhas pelo corpo. No
quinto mês de gravidez veio a notícia: a filha dela foi diagnosticada
com microcefalia. Ela e o namorado, Paulo Vinícius Portela, de 21 anos,
moram em Surubim,
Agreste de Pernambuco, e precisaram largar a faculdade. Desempregados,
contam com a ajuda de parentes para custear as despesas com transporte
para o tratamento de Helena, a filha de um mês.
Paulo Vinícius contou que gasta, pelo menos, R$ 250 por semana apenas
com transporte para levar a bebê ao Instituto de Medicina Integral
Professor Fernando Figueira (Imip) e à Associação de Assistência à
Criança Deficiente (AACD), no Recife. Para tentar contribuir com os
custos, ele faz "bicos" com promoção de eventos. O jovem disse que esse
valor é para as despesas de um dia.
Helena precisa ir ao Imip e à AACD para ser tratada com fisioterapeutas
e fonoaudiólogos para receber estímulos precoces. Paulo falou que os
médicos explicaram que ela tem a possibilidade de ter problemas
mortores, visuais, auditivos e mentais. Apesar disso, Nicole contou que a
filha - que nasceu com pouco mais de 3 kg - tem um comportamento
normal, apesar de ter "espasmos musculares quando ela está dormindo".
O Ministério da Saúde informou na terça-feira (24) que já foram
notificados 739 casos suspeitos de microcefalia em 160 municípios do
país. O maior número de ocorrências ocorreu em Pernambuco – 487. Apesar
da quantidade de casos no estado, Paulo disse que "não ajuda saber que
têm outras crianças [com microcefalia]; não vai mudar os problemas da
minha filha".
O casal contou que após o diagnóstico, os médicos tentaram suavizar a
situação. Eles disseram que buscam sanar as dúvidas com outros pais em
grupos nas redes sociais. A mãe disse que todos na casa tiveram manchas
vermelhas pelo corpo, mas o zíka vírus não foi diagnosticado. O zika é
transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e pode ser - de acordo com o
Ministério da Saúde - o causador dos casos recentes de microcefalia.
A vida de estudantes deu lugar a responsabilidade de pais. Os dois
contaram que ficaram "assustados" ao saber da condição da filha. Eles
disseram que estão confiantes no futuro. "Voltei a minha vida para ela
[Helena]. Tranquei a faculdade de história na UFPE [Universidade Federal
de Pernambuco] para cuidar dela, apesar de estar desempregado e com
problemas com dinheiro", disse o pai. A mãe contou que está preparada
para enfrentar o que vier pela frente, mas disse que "o futuro será de
muita luta"
Surto de microcefalia
De 27 de outubro a 22 de novembro, foram notificados 487 casos em
Pernambuco. O número é quase cinco vezes maior que o segundo estado com
maior número de ocorrências. A Paraíba registrou, até o momento, 96
ocorrências. O Ministério da Saúde informou que já foram notificados 739
casos suspeitos de microcefalia em 160 cidades de nove estados do país.
A principal hipótese para o surto continua sendo o contágio por zika
vírus – identificado no Brasil pela primeira vez em abril. A
microcefalia faz com que o bebê nasça com o crânio menor do que o
normal. O aumento dos casos de microcefalia e a hipótese de uma relação
com o vírus foram comunicados "verbalmente" à diretora da Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS/ONU), Carissa Etienne, na semana passada. O
zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue e a
chikungunya.
"Todos os cientistas que tivemos contato até agora atribuem o surto de
microcefalia, por enquanto circunscrito ao Nordeste, principalmente no
estado de Pernambuco, ao zika vírus", declarou. "Estamos com o problema
potencializado. Além da dengue, que mata, além da chikungunya, que
aleija temporariamente, temos o zika vírus, que aparentemente causa a
microcefalia. [É] um problema de dimensões muito grandes que temos que
enfrentar", disse o ministro Marcelo Castro.
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