Em Pernambuco, 73 famílias com bebês que têm a malformação vivem na extrema pobreza
(Foto: Artur Ferraz / G1)
rês meses depois de o governo federal decretar situação de emergência
por causa do aumento súbito no número de casos de microcefalia no país,
poucas famílias pernambucanas estão sendo atendidas com algum tipo de
benefício. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança
e Juventude (SDSCJ) de Pernambuco, das 209 crianças que tiveram diagnóstico confirmado, apenas cinco recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O benefício é concedido pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)
aos portadores de alguns tipos de deficiência, entre eles a
microcefalia. O valor mensal corresponde a um salário mínimo, que hoje
vale R$ 880.
Tendo como base dados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate
à Fome, a secretaria estadual identificou 73 famílias com bebês que têm
a malformação que vivem na extrema pobreza, ou seja, têm uma renda de
até R$ 77 por pessoa. Esse número representa 35% dos casos confirmados
de microcefalia. Para receber o BPC, é necessário ter uma renda familiar
total de até um quarto do salário mínimo, isto é, R$ 220.
Para tentar aumentar o número de famílias atendidas com algum
benefício, a SDSCJ começa a recolher propostas de assistência aos bebês
que nasceram com a malformação. As sugestões estão sendo levantadas no
seminário ‘Microcefalia e os cuidados socioassistenciais’, realizado durante toda esta quinta-feira (25) na Faculdade Frassinetti do Recife
(Fafire), no bairro da Boa Vista. O evento reúne durante todo o dia
gestores municipais, pesquisadores, assistentes sociais e representantes
do Ministério da Saúde.
Seminário reúne assistentes sociais, gestores
públicos e pesquisadores (Foto: Artur Ferraz/G1)
Segundo o gerente do Sistema Único de Assistência Social da secretaria,
Joelson Rodrigues, o poder público quer atualizar a lista de pacientes
em situação de vulnerabilidade social. “Identificamos que 88 crianças
estão no Cadastro Único (listagem feita pelo governo federal para
contabilizar o número de pessoas assistidas pelos programas sociais).
Dessas, 88% sabemos que têm perfil para receber o BPC”, detalhou.
No entanto, ainda há famílias que não atendem aos critérios do governo
federal para ter acesso ao BPC, mas que estão em situação de
vulnerabilidade social. “Por isso, nós propomos que se crie uma pensão
especial para essas pessoas”, disse o secretário estadual de
Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Isaltino Nascimento.
O gestor também afirmou que vai realizar ações para facilitar o
transporte de pacientes vindos do interior do estado. “A gente pretende
regulamentar a lei estadual que garante o transporte intermunicipal para
portadores de deficiência. Na capital, isso já existe por meio do VEM
(Vale Eletrônico Metropolitano) Livre Acesso. Queremos instituir isso
para as famílias do interior que buscam tratamento em outras cidades,
como Recife e Caruaru”, disse o secretário. O VEM Livre Acesso dá direto
às pessoas com deficiência à passagem de graça no transporte público.
Mosquito x saneamento
Para a médica infectologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Ângela Rocha, as famílias de baixa renda acabam se expondo
mais ao mosquito Aedes aegypti por viverem em localidades com muito lixo
e sem saneamento básico. “Essas doenças atingem quem se expõe mais.
Nesses lugares, há muito mais criadouros. Se uma pessoa que mora em
bairro rico se mudar para um desses locais, provavelmente teria esse
problema”, explicou.
A médica também lembrou que mulheres em situação de vulnerabilidade
social, em geral, engravidam mais. “E toda grávida deve fazer
ultrassonografia entre a 32ª e 35ª semanas de gestação. É nesse momento
que se pode identificar a malformação no bebê”, ressaltou.
DO G1 PE
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