segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Estudante desenvolve Síndrome de Guillain-Barré após sinais da dengue



Heloise Hamada e Wellington Roberto
 Do G1 Presidente Prudente

Um estudante de design gráfico, de 29 anos, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional (HR), em Presidente Prudente, diagnosticado com a Síndrome de Guillain-Barré, após apresentar os sintomas da dengue. Conforme a família, a doença neurológica foi confirmada e o tratamento teve início na última sexta-feira (12). Até o diagnóstico, Jorge Luiz Zangirolamo chegou a “vegetar”, pois não conseguia se mover, apesar de ter permanecido consciente.
Segundo o pai, Luiz Carlos Zangirolamo, seu filho começou a sentir febre alta e dores pelo corpo no dia 3 de fevereiro e se deslocou até o HR para receber atendimento médico. “Lá no hospital ele foi medicado e levantou-se a suspeita de dengue. Os médicos solicitaram que ele fosse ao Pronto Atendimento [PA] do Conjunto Habitacional Ana Jacinta para fazer a realização de exames para a confirmação da doença”, explicou ao G1.

O rapaz realizou os procedimentos no PA e retornou para casa após ser medicado mais uma vez. Porém, as dores continuaram. A médica veterinária e doutoranda em imunologia Amanda Fonseca Zangirolamo, que é irmã de Jorge, contou ao G1 que, inicialmente, achou que se tratava da fase final da dengue. “Também já tive dengue e senti muitas dores na fase final. Porém, ele começou a ter formigamento, que foi persistente e bem intenso, diferente do que eu senti na dengue”, explicou.


Esse formigamento constante nas mãos, nos pés, nos braços e nas pernas teve início no dia 9 de fevereiro, segundo o relato do pai. “Percebemos que o quadro estava piorando, pois ele não tinha forças para se levantar sozinho e as juntas do corpo começaram a atrofiar. A coisa ficou tão séria que até a garganta começou a travar, impossibilitando-o de comer e até mesmo de falar”, afirmou Luiz ao G1.
Jorge foi levado novamente para o Pronto Atendimento, onde uma médica realizou alguns testes. "Ela pediu para ele tentar empurrar a mão dela com as mãos e as pernas. Diante da resposta, ela disse que não era algo normal da dengue e poderia ser algum comprometimento neurológico e fez o pedido de tomografia, pois poderia ser um edema ou coágulo na cabeça, ou um comprometimento do zika vírus", explicou Amanda.
Com o pedido, a família retornou ao HR para que fosse feita a tomografia. "Depois de muita persistência, fizeram o exame e ele foi internado em uma maca no corredor. Isso foi no início da semana passada. O resultado deu normal. Nem edema, nem coágulo. Mas ele exibia fraqueza dos membros superiores e inferiores, e eu já suspeitava da síndrome, que vai paralisando os músculos", salientou a veterinária.

Exame do líquor
Nesta fase, Jorge não conseguia mais erguer a cabeça, nem apertar as mãos ou movimentar os pés, com dificuldade de mastigar e engolir e até mesmo para respirar. "Na quarta-feira [10], depois de muita insistência, foi feito o pedido do exame do líquor, porque, se desse alguma alteração, poderia ser meningite ou encefalite. Mas deu apenas que a celularidade estava normal, sem infecção, mas com a proteína alta", relatou a irmã ao G1.

O resultado do líquor foi avaliado por um neurologista e deu "sugestivo para a Síndrome de Guillain-Barré". Na sexta-feira (12) pela manhã, com a análise do resultado e dos sintomas apresentados pelo paciente, os médicos informaram a família a respeito da doença neurológica.
"Assim que confirmaram que era a Síndrome de Guillain-Barré, ele foi levado para a emergência, para tratamento imediato com imunoglobulina venosa. Por ser um medicamento de alto custo, corremos com a papelada e acharam 30 frascos, exatamente do que ele precisava. Então, ele foi encaminhado para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e começou a tomar o medicamento", disse Amanda ao G1.
Até esta terça-feira (16), Jorge deve tomar seis frascos de imunoglobulina por dia. "Como demora um pouco para o tratamento fazer efeito, ele também teve paralisia dos músculos da face no fim de semana e estava somente com dieta líquida, com bastante dificuldade de fala e pálpebra pesada. Agora, tivemos os primeiros sinais de melhora. Ele, que não conseguia erguer nada, praticamente ficou vegetando, começou a erguer um pouco a perna e mexer a língua. Provavelmente meu irmão está reagindo ao tratamento", comemorou.


Recuperação lenta
Entretanto, Amanda salientou ao G1 que a recuperação será lenta e com muita fisioterapia. "Ele está estável. Graças a Deus, a doença parou. A recuperação é lenta e o próprio organismo precisa reconstruir o que foi danificado. Os sintomas são reversíveis, a doença é autolimitante. Quando se descobre e trata, é só esperar a recuperação. Mas é uma doença perigosa, se não descoberta logo, pois pode parar o diafragma e era esse o nosso medo", pontuou a veterinária.
Até desenvolver a Síndrome de Guillain-Barré, Jorge trabalhava, estudava e era uma pessoa ativa, como descreveu sua irmã. "Ele tinha uma vida normal. Não fez nenhuma viagem. Meu pai teve dengue no mesmo período. Eles tiveram os sintomas na mesma época. Agora, meu pai está bem, sem sinais da doença, mas apresentando cansaço", disse Amanda.
Ela falou ao G1 também que a família ainda não recebeu o resultado da sorologia, que pode confirmar se Jorge teve dengue ou zika vírus. "Ele não tem HIV, infecção intestinal, nem outra bactéria. Então, provavelmente o que causou a síndrome foi a dengue ou o zika vírus. Disseram que vão enviar o resultado para a gente o quanto antes. Estamos aguardando", frisou.
A família mora no bairro Cecap, na zona oeste de Presidente Prudente. Na vizinhança, a veterinária falou que há pelo menos 10 casos suspeitos dengue. “É um mosquito [Aedes aegypti] perigoso e a situação da doença está complicada e pode levar a outras coisas também. Achamos que iríamos perder o Jorge e não desejamos isso a ninguém”, finalizou Amanda.
O Hospital Regional de Presidente Prudente confirmou nesta segunda-feira (15) que o paciente está internado na UTI, “com quadro estável, mas ainda com risco de morte”. “Não há previsão de alta para ele”, informou a unidade de saúde ao G1.

Síndrome de Guillain-Barré
A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença neurológica considerada muito rara e afeta o sistema nervoso. O principal sintoma é a fraqueza muscular. A paralisia pode começar pelos pés e subir pelo corpo, chegando até o rosto. Em casos mais graves, pode afetar o diafragma e levar à morte.
A doença costuma aparecer após um quadro de infecção. O organismo reage e produz anticorpos para se proteger. Porém, no caso da Guillain-Barré, os anticorpos atacam a mielina, a membrana que reveste as fibras nervosas.
A relação do zika vírus com a síndrome ainda está sendo estudada.

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