quarta-feira, 25 de maio de 2016

Adoção: apesar de avanços, ainda existem entraves

Quem busca um filho ainda impõe perfil. Conheça histórias de pessoas que venceram essa barreira

 
Maria Vitória, 8 meses, que nasceu com microcefalia relacionada ao zika e foi deixada para adoção, completou a vida de Kely Oliveira, 35

 A dona de casa Kely Oliveira, 35, passou nove anos tentando engravidar até decidir, em março de 2015, adotar. Cadastrou-se na 2ª Vara da Infância e Juventude do Recife. No perfil, indicou que queria uma “criança com doença tratável”. Perfil que desabou ao conhecer Maria Vitória no início de abril passado quando visitou um abrigo no Recife. O bebê, que nasceu com microcefalia relacionada ao zika, conquistou a ela e ao marido, o funcionário público Josimar Pereira, 55. Nesta quarta (25), Dia Nacional de Adoção, histórias como essa são celebradas. Mas ainda há muito a melhorar.

Atualmente, 6.587 mil crianças integram a lista do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Na contramão, há 35,8 mil adultos que querem adotar. O que impede o fechamento dessa conta é o perfil específico imposto: crianças com malformações e doenças crônicas, grupo de irmãos e maiores de 8 anos ainda são preteridas. “Antes, apenas meninas, com até 6 meses e brancas eram adotadas. Agora, meninos, negros e crianças com até 7 anos são mais aceitas. Mas ainda há, sim, essas especificidades”, comenta a presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, Suzana Schettini.



 Segundo o CNA, no País, existem 4.333 crianças com irmãos, 1.689 com alguma doença ou deficiência e 73,68% têm mais de 8 anos de idade. No Recife, das 58 crianças disponíveis para adoção, 48 têm mais de 11 anos e 17 possuem alguma doença. Maria Vitória estava entre elas. “Quando a vimos, tivemos a certeza que era a nossa filha e nenhuma dificuldade diminuiu nossa vontade de estar com ela. Maria Vitória nos completou”, comentou a mãe, que junto com o marido espera ansiosa a guarda definitiva de Maria Vitória, hoje com 8 meses.



Mudança
Para o Juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude do Recife, Élio Braz, os avanços são inquestionáveis. “Hoje temos bem menos crianças para serem adotadas do que antigamente. As mulheres têm menos filhos. Ou adiam os planos de engravidar e, quando tentam, não conseguem e buscam a adoção”. Além disso, ressaltou Braz, menos crianças são abandonadas, graças a programas sociais que deram mais condições às famílias.






 “Um encontro de almas”
“Um encontro de almas”. É assim que o técnico em enfermagem Ubiratan Vieira, 57 anos, define sua relação com o filho Victor, 13. Há 7 anos, enquanto fazia um trabalho voluntário num abrigo, Ubiratan conheceu o menino e se apaixonou. “A ideia de adotar era presente, mas não constante. Quando o vi, entendi imediatamente que deveríamos viver juntos para sempre”. De acordo com o pai, Victor, que tem paralisia cerebral e vive em uma cadeira de rodas, é a sua principal companhia. “Sou solteiro e ele é o responsável pelo amor mais puro e verdadeiro que senti. Aprendi com Victor a ter mais respeito, compaixão e amor por todas as pessoas. Ele me ensina a cada dia. É a minha alma gêmea”, afirmou, emocionado.
 

“O amor vence as adversidades”
O clamor por respeito foi o que mais chamou a atenção do executivo de contas Ivson Rodrigues, 34, e do bancário Carlos Alberto, 34, para adotar os irmãos Júnior, 12, e João Lucas, 14, há 3 anos. “Eu não gostava de viver no abrigo. Lá não me respeitavam, não cuidavam de mim. Não era feliz. Nem escovar os dentes a gente escovava. Tudo o que eu queria era amor e respeito e eles me deram isso”, contou João Lucas. Antes dos irmãos, o casal já havia adotado Eduardo, 8 anos. O maior medo deles era de que os filhos sofressem preconceito. “Não podíamos permitir que eles sofressem o que nós sofremos. Mas hoje, entendemos que, com amor, podemos ultrapassar qualquer adversidade. Somos muito felizes os cinco juntos”, finalizou Ivson.




Fonte-Folha de Pernambuco

 

 

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