Apesar de não existir uma receita pronta para lidar com o autismo em
sala de aula, há aspectos básicos na aprendizagem humana - comuns a
todos nós - que podem servir de mediadores da aprendizagem, dentre eles a
afetividade.
Apesar de não existir uma receita pronta para lidar com o
autismo em sala de aula, há aspectos básicos na aprendizagem humana -
comuns a todos nós - que podem servir de mediadores da aprendizagem,
dentre eles a afetividade. O afeto não é nenhuma nova teoria pedagógica,
nem a mais nova descoberta científica para dar-nos melhor qualidade de
vida.
Trata-se de algo que acompanha o homem desde o
nascimento da sua história. É um instrumento pedagógico que precede ao
uso do giz e da lousa, todavia, não se tornou anacrônico. Ele é
científico: ao consumar o afeto, o cérebro recompensa o corpo por meio
da liberação de impulsos químicos que trazem a sensação de prazer e de
alegria. Ser afetivo não é ser adocicado. Ser afetivo é utilizar o campo
emocional como um eficaz e real instrumento pedagógico, mediando a
aprendizagem, trabalhando a memória e a cognição.
Em termos práticos, é trazer para o exercício
pedagógico o interesse e o amor dos atores da escola. Um aluno que ama
aprender aprende melhor; um professor que ama ensinar ensina melhor.
Porém, não podemos nos iludir achando que basta amar para ser bom
professor. Antes, se eu amo, eu estudo, eu pesquiso, eu trabalho e,
desta forma, adquiro um olhar sensível e instrumentalizado, essencial ao
exercício docente.
A carga de amorosidade que está em mim me faz ser
um aprendiz do saber para exercer com equidade o meu ofício. A carga de
amor que está em mim me faz interessado e responsável em descobrir
alternativas nos processos de ensino e aprendizagem. Igualmente, a carga
afetiva do aluno o faz irromper a lugares ainda desconhecidos de
aprendizagem e saber. Se não podemos ser afetivos sem adquirir os
predicados necessários ao exercício docente, tampouco podemos exercer a
prática pedagógica sem os atributos do amor, principalmente quando
falamos da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais.
Podemos dizer que o afeto possui três dimensões: a
pessoal, que desenvolve a autoestima do professor e do aluno, revelando
as raízes da motivação e do interesse; a social, estabelecendo as
relações com aqueles que estão no campo escolar e que podem tornar o
ambiente instigante para a aprendizagem; a pedagógica, que estimula os
vínculos do aluno e do professor com o objeto de estudo, produzindo a
afinidade com o processo de ensino e aprendizagem, na troca de saberes
docentes e discentes, na cumplicidade de fazer o percurso tão prazeroso
quanto a chegada.
Portanto, é necessário mergulhar nos afetos do aluno com
autismo: descobrir seus interesses, desejos, sonhos possibilidades,
dificuldades, enfim, conhecê-lo bem. O professor precisa descobrir quais
habilidades ele já possui e quais precisa adquirir. Podem ser
habilidades sociais ou acadêmicas. Sempre priorizando a comunicação e a
socialização. Decerto, não há metodologias ou técnicas salvadoras.
Há, sim, a possibilidade de uma formação, considerando a
função social e construtivista da escola. A escola necessita aprender a
lidar com a realidade do educando. Nessa relação, quem primeiro aprende
é o professor e quem primeiro ensina é o aluno. Afinal, o aprendente
com autismo não é um ser solitário compondo uma música que só ele ouve.
Ele faz parte de uma orquestra, cujo maestro é o seu desejo, pois é para
este que ele sempre olha. E o professor? O professor é o músico que dá
vida ao ritmo que sustenta a música até o final.
Fonte-Saber Autismo
Eugênio Cunha -
Doutor, Professor, psicopedagogo, doutor em educação. Autor dos
livros “Afetividade na prática pedagógica”, “Afeto e aprendizagem”
“Autismo e inclusão”, “Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade”
e “Autismo na escola: um jeito diferente de aprender, um jeito
diferente de ensinar", publicados pela WAK Editora.
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