sábado, 25 de junho de 2016

Funcionária cega dribla deficiência e atende público no Poupatempo em SP

Servidora 'dribla' deficiência visual para atender público no Poupatempo (Foto: Camilla Motta/G1)

"Nunca fui tratada diferente e isso era o que eu mais queria, ser tratada igual aos demais funcionários". A afirmação é da orientadora Gislaine Cristina Ferreira, de 32 anos, dos quais oito atuando na agência do Poupatempo em São José dos Campos (SP) - ela é a única funcionária com deficiência visual que atua no órgão no Estado de São Paulo.
Exemplo de superação, Gislaine, que nasceu cega por causa de toxoplasmose, atende e orienta o público que procura atendimento no posto. O local agrega vários serviços de utilidade pública em um mesmo espaço.
Assim como os outros funcionários, ela enviou currículo, passou por entrevista e fez 20 dias de treinamento. Neste período, parte do conteúdo que ela deveria aprender foi produzido em braile especialmente para ela. Para se familiarizar com todos os espaços do prédio onde trabalha, ela os percorreu várias vezes os ambientes.


Para Gislaine, lidar com o público tem sido uma experiência que mostra que é possível levar uma vida praticamente normal, mesmo diante dos obstáculos. "As pessoas dizem que nós temos que acreditar no nosso potencial, mas ainda é difícil para o deficiente ficar frente a frente com as pessoas e ser aceito", afirmou ao G1. Ela se orgulha da profissão e o público também demonstra estar satisfeito com o trabalho dela.
No balcão que ela fica, logo na entrada do prédio, o público pode pedir orientação sobre o atendimento. Os panfletos de orientações ficam no balcão, são cerca de 12 diferentes, agrupados por tema. Gislaine sabe onde fica cada um.
O Deusdedit José da Silva foi buscar atendimento no poupatempo na manhã desta quinta-feira (23). Ele precisava de informações para como dar entrada no seguro desemprego e foi atendido pela Gislaine, que indicou em qual setor ele deveria ir e ensinou o caminho

                                  Gislaine orienta público que precisa de
                                        atendimento no Poupatempo
                                          (Foto: Camilla Motta/G1)



"Ela explicou super bem. Tem gente que enrola e a gente tem que ficar indo para lá e para cá, mas ela é super rápida. Gostei do atendimento", contou.
A técnica de enfermagem também aprovou o trabalho da funcionária e ficou feliz em ver Gislaine no mercado de trabalho. "Notei a deficiência e achei muito legal ela ser independente. Quem dera todos tivessem essa oportunidade também. Ela conversou comigo, me explicou o que preciso. Foi ótima", afirmou
Apesar disso, ela disse que já ficou chateada quando está com outra atendente e diz que percebe que o público faz fila para ser atendido só pela outra. "Isso já aconteceu e me chateou porque ela ficava lá sem fazer nada e as pessoas esperando. Eu sou capaz, tudo está na minha cabeça, decorei tudo", disse.


Independência
A atendente mora em Jacareí, cidade vizinha de São José dos Campos. Para chegar ao trabalho, ela precisa pegar três ônibus e atravessar a passarela da Via Dutra, uma das rodovias mais movimentadas do país.
O trajeto tem duração de duas horas e ela percorre sozinha. "Já acostumei e para saber o local certo, o motorista me avisa ou pergunto para outros passageiros", contou Gislaine.
Ela contou também que no início da carreira a família ficou preocupada, mas que sempre a incentivou. "Um psicólogo perguntou para a minha mãe: se você não deixá-la viver a vida, o que será dela quando vocês partirem? Depois disso ela me deu mais liberdade. Faço tudo sozinha, só às vezes a gente sai para comprar algo e eu a chamo para ser 'meus olhos'", contou
Reconhecimento e sonhos
Com a independência conquistada, ela ainda tem o sonho de cursar a faculdade de administração e casar. "Quero formar uma família. Falar para os meus filhos que eu já passei por muita coisa, mas que é possível superar se você acreditar", afirmou.
Ela brinca que quando for casar, a madrinha será a coordenadora do Poupatempo da ciadde Claudia Sepinho. A coordenadora participou da seleção de contratação da Gislaine há oito anos.
"Ela chegou com a cabeça baixa, tímida, com pouca confiança. Ela foi erguendo, erguendo e floresceu. Hoje só anda com a cabeça erguida. Ela tem algumas limitações, mas muitos talentos", concluiu Claudia.

Fonte-g1

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