Pesquisadores da Fundação Altino Ventura (FAV) relataram, nesta
quinta-feira (9), a documentação do primeiro caso de um bebê sem
microcefalia, mas com graves lesões oftalmológicas causadas pelo vírus
da zika. Até então, acreditava-se que apenas crianças com a malformação
originada pelo zika durante a gestação poderiam desenvolver algum
problema de visão. O caso começou a ser investigado em dezembro de 2015,
confirmado em março deste ano, mas só divulgado na manhã desta quinta
pela oftalmologista da FAV, Camila Ventura.
Esse primeiro caso documentado, publicado esta semana em artigo na
revista científica The Lancet, é de um bebê de seis meses. Sem nenhuma
característica da microcefalia, a criança só foi submetida aos cuidados
da FAV por apresentar espasmos motores. A mãe da criança não sabia que
havia contraído o vírus durante a gravidez, já que não teve nenhum
sintoma. "No começo, nem ligamos esse caso ao zika porque ele apresenta
perímetro cefálico dentro da normalidade e a mãe dizia que não havia
tido o vírus. Foi então que resolvemos fazer o teste de sorologia e
apareceu o zika", detalhou a médica.
Durante o exame oftalmológico completo, foi constatada uma cicatriz
profunda na região da visão central do pequeno, responsável pelos
detalhes e os contrastes visuais. Porém, como a lesão foi descoberta
logo, a médica explica que nesses casos a criança aprende um modo de
tentar driblar essa falta da principal área visual do ser humano, com
maior números de neurônios.
"Ele vai encontrar um jeito de usar outra parte da visão com mais
potência", completa ao dizer que o pico de desenvolvimento visual se dá
até os seis meses de vida, mas que o crescimento ocorre até os nove anos
de idade.
Por conta disso, Camila Ventura defende que o exame oftalmológico
completo seja feito em todas as crianças que nasçam nesse período
epidemiológico. "É preciso fazer a dilatação pupilar e o exame de retina
para encontrar esses problemas que agora descobrirmos que também são
causados pelo vírus da zika. O exame do olhinho, que é lei no estado,
detecta doenças como catarata congênita e alguns tumores, mas não essas
lesões tão características", pondera a especialista.
Até então, o estado de Pernambuco apresenta 68 casos de bebês que
tiveram contato com o vírus da zika, mas que não apresentaram
microcefalia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Fonte-G1 PE
Nenhum comentário:
Postar um comentário