Leandro Menna é morador de Campinas que mais colabora com o Guia de Rodas (Foto: Arquivo Pessoal)
O direito de ir e vir é garantido pela Constituição, mas quem é
cadeirante ou possui alguma outra dificuldade de locomoção sabe que essa
liberdade esbarra em alguns degraus e buracos pelas cidades. Esbarra
ainda em locais sem qualquer preparo, rampas de acesso ou preocupação em
bem servir. Para driblar este problema, um cadeirante desenvolveu um
aplicativo colaborativo para consulta e avaliação da acessibilidade de
estabelecimentos para pessoas com dificuldade de locomoção.
O Guia de Rodas, como foi chamado, está disponível para Android e IOS e
permite que qualquer pessoa, inclusive as que não possuem qualquer
dificuldade, a avaliar restaurantes, supermercados, lojas, cinemas,
farmácias, consultórios, teatros, baladas, entre outros.
A proposta do app é facilitar a vida de todas as pessoas com algum tipo
de dificuldade de locomoção, sejam cadeirantes, idosos, gestantes, mães
com filhos pequenos e tantas outras limitações físicas e funcionais.
Portador de hipomielinização, uma rara doença neurológica que causa
fraqueza muscular progressiva dos membros inferiores, o designer Leandro
Menna é cadeirante e um dos usuários mais ativos do aplicativo. No
último fim de semana, foi com o irmão e alguns amigos a uma badalada
boate em Campinas (SP) para se divertir, mas, logo na entrada, ele se deparou com uma escada.
"Tem uma escadaria na frente, uns 10 degraus, e meus amigos me ajudaram
a entrar. E isso porque a boate acabou de ser reinaugurada. Eles até
têm banheiro adaptado, mas é utilizado como depósito. Diversos
estabelecimentos fazem do banheiro para deficientes seus depósitos para
produtos de limpeza", reclama Leandro.
Foi para ajudar pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que o
designer passou a usar o app. "Faço uso constante do aplicativo. Sempre
que vou a algum lugar, dou a minha avaliação. Assim como eu, outras
pessoas com limitação física também precisam dessas informações. É
importante o próprio usuário avaliar o local e descrever as dificuldades
que teve", pontua.
Intuitivo
Com manuseio fácil e intuitivo, o aplicativo permite que os usuários
façam uma rápida avaliação do estabelecimento, levando em conta
informações do local como se há vagas especiais para estacionamento ou
manobrista, se a entrada é facilitada, se há boas condições de
circulação interna e se há banheiro para pessoas com deficiência.
Depois de avaliados, os estabelecimentos aparecem com uma classificação
dividida em cores: verde para os acessíveis, amarelo para os que são
parcialmente acessíveis e vermelho para aqueles que não se preocupam com
a questão.
Por meio de GPS, o app favorece a avaliação no próprio local e também a
busca por filtros específicos para quem pretende saber quais são os
estabelecimentos mais acessíveis em determinado bairro, cidade ou país.
Idealizador do aplicativo, Bruno é cadeirante desde
os 17 anos (Foto: Divulgação / Lucas Leite)
Crescimento
Lançado em 15 de fevereiro, o app vem conquistando um número crescente
de usuários. Em junho, 5 mil lugares foram avaliados, conta Bruno
Mahfuz, desenvolvedor do app. Cadeirante há 15 anos, quando sofreu um
acidente de carro, ele conta ter se inspirado em sua própria dificuldade
para idealizar o guia.
"Eu tinha 17 anos quando sofri um acidente e sempre tive muita
dificuldade para sair de casa. Na época eu tinha o terceiro colegial
incompleto, passei na escola depois de fazer uma pesada reabilitação, e
decidi retomar a vida. Quando fui fazer vestibular, eu não conseguia
entrar nas faculdades para fazer as provas. Isso foi em 2002 e, de lá
para cá, muitas coisas já melhoraram, mas é sempre uma surpresa na hora
de sair de casa. A gente nunca sabe o que vai encontrar", lamenta Bruno.
Satisfeito com o desempenho do aplicativo, ele conta que qualquer
pessoa que possua olhos para acessibilidade pode ser fonte para o guia e
que a ferramenta tem como objetivo enaltecer os locais que se preocupam
com este público.
"Hoje 70% dos nossos avaliadores não possuem deficiência, e isso me
deixa bem satisfeito. Estamos cumprindo um papel de agente
conscientizador. Para a inclusão acontecer de uma forma tranquila e
prazerosa, a gente precisa mostrar que ser acessível também é lucrativo.
Os proprietários de locais que não se preocupam com acessibilidade
esquecem que estas pessoas também são consumidoras e que vão preferir
gastar seus dinheiros em locais que as receba bem", ressalta.
Terapeuta ocupacional, Janete Mobley é uma entusiasta do projeto e
recomenda o app para seus pacientes e familiares por acreditar ser
preciso irradiar a ideia da inclusão.
"Vejo o aplicativo de forma abrangente, não serve só para cadeirante,
serve para idoso, para mãe com bebe. Nós, como andantes, temos
dificuldades em algumas calçadas, é uma verdadeira loucura, imagina para
quem tem qualquer dificuldade. Eles enfrentam dez mil obstáculos todos
os dias. Esse é um trabalho de formiguinha, mas pode causar uma grande
mudança de consciência", acredita a terapeuta.
Aplicativo Guia de Rodas permite que usuários avaliem acessibilidade em comércios (Foto: Lucas Leite)
Fonte-G1
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