Jhenny tem 28 anos, Welson, 26. Ela trabalha há sete como vendedora de loja de departamento no Shopping Campo Grande,
ele é estoquista. Nascida em Campo Grande, Jhenny só foi falar aos 4
anos, depois de começar a ser acompanhada na Apae. Welson é carioca,
veio morar com o tio no Estado e foi encaminhado para a Apae após uma
breve passagem pela Pestalozzi.
Apresentados por uma amiga, eles dizem que a história é longa. Foi a primeira entrevista
do casal na residência onde moram, junto da mãe de Jhenny. "Eu gostei
dele, não esqueci dele e desse dia. Contei um pouco da minha vida para
ele e nós só ficamos por brincadeira. Depois foi: 'vamos namorar sério
para valer?' Então vamos, nós casamos e ficamos juntos para o resto da
vida", resume Jhenny da Silva Lopes.
Emanuel, o pequeno que veio a eles como maior vitória de suas vidas. (Foto: Alcides Neto)
"Quando a gente começou a se conhecer foi muita reviravolta. Teve choro, lágrimas, um pouco de atrapalhar",
descreve Welton Cardoso. "Mas mesmo assim eu peguei e fui em frente",
completa. Os meninos não tinham nem 18 anos quando engataram o namoro
com direito a pedido para os pais dela. "No dia, eu vim à noite aqui
para pedir para a mãe dela. Eu tinha matado aula com ela, trouxe, deixei
ela aqui e pedi a mão dela. Deu aquele frio, mas eu pedi", conta ele.
Jhenny interrompe para dizer "e valeu à pena".
Os
dois sabem da deficiência que tem e também percebem o quanto ela fica
pequena perto do preconceito. "Eu gosto de ir na Apae porque eu tenho um
problema, tem coisa que eu esqueço, entendeu? Eu não conseguia
acompanhar os alunos na escola", explica Jhenny sobre a deficiência.
Na
vez de Welton, o estoquista descreve que tem mentalidade lenta. "É um
raciocínio lento para algumas coisas, assim, eu não consigo rápido, é
meio que um pouco difícil".
De
início, o namoro dos dois não tinha a aprovação do tio de Welson. Não
por preconceito, mas porque a família dele dizia que Jhenny não tinha
futuro. "Ela não tinha estudo, ele falava: vocês não vão ficar junto'",
repete Welton. Situação já superada hoje, mas que à época separou o casal.
Quando
resolveram se casar, alguns anos atrás, foram barrados na Justiça
Itinerante. Vestidos de noivos, com testemunhas e a festa pronta em casa
- um churrasco - eles ouviram que não poderiam.
"A mulher falou que não podia casar porque nós era
especial. E foi a hora que veio uma decepção pra mim. Eu estava feliz,
pensa? Você pronto para casar, vestido de terno, ir na Itinerante e
falar que tu não pode porque é especial?" conta o marido.
Foi
ali que ele desistiu. Em casa, Jhenny deu para a mãe todos os presentes
que havia ganhado, por achar que como não teve casamento no papel, ela
não se sentia noiva e não merecia os presentes. "Peguei tudo as coisas,
as louças e falei fica tudo para a senhora, porque eu vou ficar com
isso? Minha mãe disse: papel não importa, importa é que você é feliz'", recorda Jhenny.
Depois
do "não", falar sobre o assunto traz à tona lágrimas. "Meu medo é de
chegar lá e não dar certo de novo, porque aquilo me humilhou. Muitas
vezes as pessoas julgam a gente por fora, pela deficiência, mas não vê
por dentro tudo o que a gente é capaz para fazer", desabafa Welton. A
esposa, só concorda.
Capaz
de muitas coisas, inclusive de criar um filho é pelo simples do dia a
dia que eles escolhem enumerar. "Eu não sabia cozinhar, mas agora até
invento e fica gostoso", se gaba Jhenny. O marido completa que às vezes
até se surpreende no fogão, especialmente com o bolinho de arroz que ele
tanto ama, e ela prepara com carinho.
Afetuosa, Jhenny é só carinhos para com o filho. (Foto: Alcides Neto)
Os dois têm os olhos da mãe de Jhenny o tempo
todo, em casa. E a filha sabe o quanto isso é importante. "Ela me ajuda
em tudo, é meu porto seguro, sem ela eu não vivo", reconhece. O papel
de avó se tornou fundamental. Emanuel nasceu em março, de parto normal,
teve de ir para o oxigênio assim que saiu, por ter engolido líquido
amniótico. Ficou internado dias no CTI e as notícias, para se ter uma
noção, eram dadas a terceiros.
"A
madrinha dele acompanhou também o nascimento dele e quando chegou o
dia, quem mais recebia notícias era ela. Eles viam o pai perto e não
falavam, diziam: 'fala pra ele'. As pessoas às vezes compara a gente
pela nossa deficiência", narra.
Em
casa, os dois têm tanto cuidado para com o pequeno que qualquer babinha
que comece a formar na boquinha, antes de cair é limpa com o pano de
boca. O cheirinho de bebê também revela o afeto com que é tratado.
Quando nasceu, o receio dos dois era de que Emanuel também tivesse uma leve deficiência. Mas até então, nada fora diagnosticado.
"É
isso, nós somos capaz de muita, muita coisa. Ele é a benção de Deus, eu
falo que é a minha alegria, meu xodózinho e às vezes, quando dá uma
coisa de pensar em coisas negativas, do passado e que vão me fazer
chorar, eu já vejo ele e penso na alegria", ressalta Welton.
O
que o casal mais tem de capacidade é amor para dar. "Sabe que esses
dias eu vi numa reportagem, eu assisto porque é bom pra mim, ensina
algumas coisas, que quando a gente cai no fundo do poço, tem uma mola lá
que tira a gente para cima de novo. Eu aprendi que se falam que você
não consegue fazer, deixa falar, não dá confiança e segue a sua vida",
ensina Welton.
"Eu
dou conselho pra ele, ele dá pra mim. Eu digo que cada degrau que você
sobe para cima, vai conseguir muito mais", encerra a esposa.
Fonte- http://www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/subestimado-pela-deficiencia-mental-casal-mostra-o-quanto-e-capaz-pelo-filho
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