A atleta Amy Purdy dança com um robô na abertura (Divulgação)
O
discurso da inclusão é muito semelhante ao discurso da
sustentabilidade: apenas um discurso mesmo. Veja, por exemplo, essas
cúpulas que reúnem nações para discutir emissão de gases e o futuro do
planeta. Todo mundo se diz preocupado, que o mundo vai acabar e
blábláblá, mas na prática nada é feito de imediato para resolver o
problema – muito embora todos afirmem que a situação é urgente
urgentíssima. No caso da inclusão, o exemplo mais atual de que o papo é
da boca para fora está nos Jogos Paralímpicos.
E
aí na Globo você assiste a um monte de reportagens com os atletas que
participarão do evento, todos aqueles textos sobre “um exemplo de
superação” e sobre carregar “um sorriso nos lábios apesar das
dificuldades”. A mensagem é que todos somos iguais e esses lutadores
merecem respeito. Mas então chega a hora de transmitir os jogos e a
emissora simplesmente ignora a cerimônia de abertura.
E
não apenas a Globo: todas as emissoras da TV aberta desprezaram o
acontecimento. Exceção ao canal público TV Brasil e à TV Cultura, cujo o
comportamento foi de espantosa bipolaridade: passou a transmitir do
nada e sem aviso (talvez sensibilizada com a revolta da galera nas redes
sociais) e, assim como começou, interrompeu bruscamente antes do final.
Na
TV paga também não foi muito diferente. A SporTV 2 transmitiu a
cerimônia, mas outros canais especializados em esporte simplesmente
passaram em branco – o que, na minha opinião, é até mais grave do que um
canal de TV aberta não dar atenção aos Jogos Paralímpicos. Um canal que
tem como matéria de trabalho o esporte não pode em hipótese alguma
preterir tal acontecimento.
Sobre
a cerimônia em si, pode-se dizer que ela referendou a capacidade do
Brasil para executar bons espetáculos do gênero. Apesar de inferior em
magnitude à abertura dos Jogos Olímpicos do Rio (até porque a verba é
menor), houve momentos de muita emoção e impacto visual – um deles foi o
balé executado pela atleta Amy Purdy com um robô.
Outro
momento marcante (por motivo diferente) foram as vaias conferidas ao
presidente Michel Temer. Ela ocorreu com força durante o discurso de
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, e só não
foi maior durante o pronunciamento de Temer porque este durou
microssegundos. O ‘Jornal da Globo’, aliás, ignorou solenemente a
notícia e dedicou um rápido clipe aos “melhores momentos” da cerimônia
no final, sem tocar no assunto das ditas vaias. Ah, Globo, Globo… Estou
querendo te respeitar; me ajuda!
Canais
de TV – paga ou aberta – são movidos pelo interesse dos anunciantes,
mais até do que o dos espectadores (é um lance paradoxal, já que
anunciantes teoricamente estão mostrando seus produtos para quem assiste
aos programas). E a grande hipocrisia é que atletas e esportes
paralímpicos não causam interesse em bancos, marcas de artigos
esportivos e outros produtos que tanto deram as caras durante os Jogos
Olímpicos 2016 – apesar de algum deles até serem patrocinadores das
Paralimpíadas. E sem anúncio, pessoal, não tem discurso de inclusão que
resista.
Nesse ponto vale uma reflexão sobre as TVs estatais, muitas vezes
criticadas como desperdício de dinheiro público. É justamente por não
depender de anunciantes (pelo menos num modelo de pouco tempo atrás) que
TVs públicas podem “se dar ao luxo” de transmitir eventos como os Jogos
Paralímpicos. O “se dar ao luxo” vem entre aspas porque não há luxo
algum em cobrir o evento – é, sim, uma obrigação atender à demanda do
público e mostrar que inclusão não é apenas conversa para boi dormir.
Fonte-YAHOO
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