A partida final do terceiro torneio de basquete feminino
para deficientes físicos foi disputada nesta quarta-feira (29) em Cabul,
capital do Afeganistão. A competição é organizada anualmente pelo Comitê
Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
O torneio foi disputado em dois dias com a participação
das equipe das cidades de Herat, Mazar-e-Sharif e Cabul. As melhores jogadoras
serão escolhidas para integrar a seleção nacional afegã, explicou à AFP Alberto
Cairo, responsável pelo programa ortopédico do CICV no Afeganistão.
As jovens jogadoras de basquete para cadeirantes exibem
as marcas de 35 anos de conflitos na região, mas não aceitam posar de vítimas.
As cadeiras de rodas vão e voltam na quadra em movimentos rápidos, e os
torcedores aplaudem com vontade quando a bola entra na cesta.
Após 40 minutos de jogo, a equipe de Mazar-e-Sharif ficou
com o título ao derrotar o time de Cabul por 26 a 9. Mas, para muitas dessas
atletas, o simples fato de ter a chance de estar em quadra é uma enorme vitória
sobre a adversidade.
Azima Ahmadi tinha apenas seis anos de idade quando sua
casa foi atingida por um morteiro dos talibãs, que tomaram a capital em 1996. A
explosão acabou atingindo a perna esquerda da menina, rasgando nervos e paralisando
o pé de maneira irreversível.
Azima teve que desistir do sonho de se tornar uma
jogadora de futebol, mas o basquete devolveu a ela a motivação e o instinto
competitivo.
"Minha mensagem é que os deficientes físicos não
devem se sentir desfavorecidos. Seja qual for o seu objetivo na vida, lute para
alcançá-lo", disse a jovem de 23 anos, vestindo o uniforme rosa da equipe
de Cabul e usando um véu preto na cabeça.
"Meu sonho é jogar em países europeus, como Itália,
Alemanha e França", disse com um sorriso.
Mariam Samimi, da equipe vencedora, também tinha seis
anos quando pisou em uma mina terrestre na província de Balkh, no norte do
país. Ela perdeu todos os dedos do pé.
O incidente ocorreu em 1996, em plena guerra civil afegã,
quando poucos serviços médicos estavam disponíveis para tratar esse tipo de
ferimento.
'Não percam as esperanças'
Hoje com 23 anos, a jovem, que é assistente social e uma
atleta popular, também tem uma mensagem positiva para quem está passando pelo
que ela passou: "Não percam as esperanças, e nunca digam 'não sou capaz',
sempre tenham confiança".
Nos anos 1990, os serviços de saúde do Afeganistão também
eram precários na prevenção da poliomelite.
Por causa da paralisia infantil, Kamila Rahimi, atleta do
Mazar-e-Sharif de 19 anos, perdeu os movimentos. Mas dentro de quadra ela
esquece a deficiência.
"Eu me sinto feliz em poder jogar basquete, porque
adoro jogar com minhas companheiras. Quando rio, elas riem comigo, e quando
choro, elas choram comigo", explica emocionada.
Guerra civil
O Afeganistão vive a guerra em seu cotidiano desde a
invasão soviética de 1979, que pretendia manter o país sob controle comunista,
em plena Guerra Fria.
Após a saída do Exército Vermelho e uma guerra civil
devastadora, os talibãs tomaram o poder em 1996, antes de serem expulsos por
uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
O solo afegão é hoje um dos mais minados do mundo.
Dezenas de pessoas são mutiladas ou mortas por mês.
A situação continua sendo volátil, no momento em que as
forças da Otan prometem sair do país até final de dezembro deste ano, deixando
12.500 homens encarregados de manter a paz e de formar um Exército afegão.
Fonte-G1