segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Coluna de Acessibilidade. Olha pra o céu...


“Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo...”

(Trecho da Música Olha pro Céu de Luiz Gonzaga)
Por Manuela Dantas do blog de Jamildo

Últimos dias andei as voltas com um grande projeto, do qual com imensa satisfação faço parte, o projeto para construção da Escola de Música e da Sala de Concertos para a Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque. Falo com orgulho desse projeto, pois além de prover a sede a um dos movimentos sociais mais importantes do Brasil, consigo ver de perto a solidariedade humana, a generosidade de pessoas que têm como maior motivação para o trabalho as forças do amor ao próximo que ainda brotam forte em muitos de nós. Considerando também as grandes decepções que tenho em termos de acessibilidade nos eventos culturais de Recife, como também nas estruturas físicas para esses eventos, que, infelizmente, acabam por excluir um grande contingente da população, o das pessoas com deficiência, que têm o direito humano e legal de participarem em igualdade de oportunidades da vida social e cultural da nossa cidade. Aliás, pensar que 38% da população recifense, 28% da população pernambucana e 24% da população brasileira estão excluídos de um setor tão importante da nossa cidade, do nosso estado e do nosso país, é no mínimo um contrassenso enorme!

Não posso negar que me magoa profundamente ir empolgadíssima para um evento e descobrir que não há estacionamento para pessoas com deficiência, apesar de pelo decreto federal 5.296/2004 ser imperativo que 2% das vagas sejam destinadas a pessoas com deficiência, descobrir depois que não há rampas, ou que as rampas são inadequadas, verificar a ausência de banheiros adaptados, ou a ineficiência dos mesmos, verificar calçadas inacessíveis, falta de instruções em braile, ausência de interprete de libras e audiodescrição, ausência de taxis acessíveis, de vans acessíveis, de pessoas acessíveis... São tantas as negativas que não me surpreende, nem tampouco julgo as muitas pessoas com deficiência que desistiram de lutar e de tentarem ter uma vida social e cultural com um mínimo de dignidade. Mas, como diria meu pai, sou teimosa e por mais nãos que eu receba e observe, não vou desistir, é um direito meu participar de um show, de ir ao teatro, ao cinema, a uma exposição de arte, a um concerto, a uma festa literária, enfim tenho o direito de continuar a viver e não vou desistir desse direito...

Por isso foi uma decepção enorme ir a uma exposição no Santander Cultural e não encontrar rampas de acesso à calçada e ao prédio, de ir a Fliporto em Olinda e não ter vaga para estacionar, deparar-me com rampas inadequadas, com banheiros adaptados insuficientes, com sistema de transporte de vans não acessíveis, de ir ao festejado Centro de Artesanato de Pernambuco e não existirem vagas especiais para pessoas com deficiência... Esses são apenas alguns exemplos mais recentes, mas poderia fazer um livro contando todas as barreiras que me deparei nesses dois anos e meio que sou usuária de cadeira de rodas.

Ademais, de acordo com os princípios da Convenção sobre os direitos das Pessoas com Deficiência, que no Brasil faz parte da Constituição, temos o dever de “... garantir o respeito pela dignidade inerente, à independência da pessoa, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a autonomia individual, a não discriminação, a plena e efetiva participação e inclusão na sociedade, o respeito pela diferença, à igualdade de oportunidades, a acessibilidade, a igualdade entre o homem e a mulher e o respeito pelas capacidades em desenvolvimento de crianças com deficiência”.

Por todas essas razões, não por acaso, deparar-me com um projeto social em que seu coordenador e mentor, o Juiz João Targino, solicita-me que todas as condições de acessibilidade e sustentabilidade sejam prioridades é no mínimo muito gratificante, na verdade, é um alento de Deus perceber que ainda existem pessoas altruístas e com pensamento tão profundo que não querem em um mínimo momento excluir nenhum ser humano... Palmas para o Juiz Targino, palmas também para Érico Dantas, João Pacífico, Eliel Rômulo, Carlos Calado, Bernardo Horowitz, Carlos Fernando Pontual, José Augusto Nepomuceno, Antônio Figueiredo que participaram do projeto tendo como motivação mais forte o amor pelos homens.

No Mais, há 220 anos na Revolução Francesa seus manifestantes já pregavam na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que: “Todos os homens são iguais e devem possuir os mesmos direitos de acesso ao trabalho e à educação”.

Pois bem, na nova sede da Orquestra Criança Cidadã será como há de ser, como é justo ser... A sede da Orquestra nascerá com acesso a todos os homens para se educar, para trabalhar, para visitar, para participar das manifestações culturais...

Com efeito, o Projeto para a construção da Sala de Concertos e da Escola de Música foi concebido de modo a ser plenamente acessível e com os atrativos, concertos, shows, aulas, cursos, palestras e oficinas adaptados e acessíveis a todos, podendo assim tornar-se uma referência em acessibilidade às pessoas com deficiência dentre os projetos sociais brasileiros, já que foi concebido baseado no conceito de DESENHO UNIVERSAL e com o objetivo de promover a integração de todos.

Enfim, o pioneirismo do projeto da Sala de Concertos e da Escola de Música no desenvolvimento da integração de todos proporcionará para as pessoas com deficiência a oportunidade de desenvolver um interesse e participação maior na cena cultural pernambucana e brasileira.

E por fim, olha pro céu meu amor e vejamos o futuro... Palmas para o sonho do Juiz Targino, palmas para o Projeto da Escola de Música e da Sala de Concertos da Orquestra Criança Cidadã feita Para Todos!

Findo esse artigo com a frase de um grande homem, Oscar Niemeyer: “A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.”. Sonhemos amigos, sonhemos...

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