segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Vida como ela é...


 Deu também no blog de jamildo.Por Manuela Modesto
A vida não é fácil para ninguém, disse-me num almoço a sábia avó de uma amiga.
Refleti e lembrei que a minha vida também não era fácil antes do acidente... Ao que me lembro só a infância e adolescência merecem esse adjetivo, mas naquela época a imaturidade me fazia considerar um drama de Shakespeare não ir a uma festa, ou até não tirar a nota na prova que eu julgava merecer.
Mas, não feita a acomodações, também julgo que minha vida poderia estar melhor, não fossem as contrariedades da convivência com o inacessível.
Lembro que o inacessível está longe de ser o impossível, já que muito do que não existe hoje em termos de INacessibilidade é reflexo de anos de omissão da fiscalização de quem é de direito das Normas Brasileiras e da Legislação Pública.
 Alias, contrariando o pensamento geral, temos o melhor conjunto de leis em direito das pessoas com deficiência do mundo. Pena que essas mesmas leis não tem a merecida e necessária eficácia...
Ademais, o Brasil ratificou, com equivalência de Emenda Constitucional, a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinados em Nova Iorque em 2007. Esse instrumento de direito garante as pessoas com deficiência a equiparação de oportunidades e de acesso a bens e serviços da nossa sociedade, como também estabelece que o limite não está na deficiência e sim no meio que não provê os instrumentos básicos que garantam o direito ao acesso de todos.
Com isso esperamos que o país avance em Direitos Humanos e conscientização de seus atores e que esse movimento ocupe as mentes de muitos que ainda não atentaram para os caminhos que garantam o futuro digno para essa nação. E esses caminhos não podem esquecer as pessoas, TODAS as pessoas.
No mais, recordo bem as pessoas espantadas com a minha vontade de retomar uma vida normal após o acidente, estando paraplégica. Eu tinha naquele momento duas escolhas, ou entrar em depressão e me questionar indefinidamente sobre os porquês daquele acidente ter acontecido comigo, ou encarar a Vida como ela é e seguir em frente com o que eu tinha e com o que podia vir a ter, com as suas adversidades e alegrias.
Para quem me conhece bem, na verdade eu só tinha a segunda opção...
Encarei a vida daquela forma e depois de 1 ano de reabilitação em São Paulo voltei para Recife numa cadeira de rodas, voltei ao trabalho, voltei a ter convivência social e percebi que muito tinha a ser feito em termos de acessibilidade na nossa cidade e para isso não podia e não ia me omitir.
Nesse momento de volta e retomada da minha vida, o meio de transporte era essencial para garantir minhas idas e vindas diárias, o meu deslocamento ao trabalho, ao lazer, a casa de amigos, a cidade, a vida.
E foi assim que me deparei com calçadas sem condições de acessibilidade, quando existem, com a ausência de taxis acessíveis na cidade e um sistema de transporte público com um grande trabalho a ser realizado para garantir a acessibilidade dos seus usuários.
Foi por isso, que acolhi com pesar o diagnóstico, apresentado no Jornal de Commercio de 28 de abril de 2013, das estações e terminais do Metrô e Trens urbanos de Recife em termos de acessibilidade.
Em 12 estações não há elevadores, a ausência de banheiros para as pessoas com deficiência é uma constante, sem falar da travessia de estações para pontos de ônibus dificultada por ausência de faixas de pedestres, ausência de guias rebaixada nas calçadas e até mesmo ausência de calçadas adequadas e acessíveis.
Considerando a capacidade de transporte em volume de passageiros, segurança, velocidade e adequação as demandas ambientais, os metros, trens urbanos, VLTs ( Veículos Leves sobre  Trilhos) e Monotrilhos são apresentados pelos especialistas em mobilidade como as melhores opções as adequações de mobilidade em grandes corredores urbanos.
Por isso mesmo os gestores públicos não podem esquecer as demandas das adequações em termos de acessibilidade dos novos e especialmente dos mais antigos terminais e estações de qualquer modal transporte coletivo, tendo em vista a mobilidade e as necessidades de quase 50 milhões de brasileiros que possuem alguma deficiência e necessitam de um meio de transporte adequado para garantir acesso ao trabalho, ao lazer, aos serviços, atividades diárias, enfim a uma vida digna.
Por certo, que a mobilidade adequada de uma cidade é uma ferramenta de dignidade não só para as pessoas com deficiência, mas para todos os cidadãos. Por isso mesmo, todos se movem diante das necessidades de novas alternativas ao transporte individual e as necessidades de um transporte público de qualidade e nesse momento de mudança de paradigmas a inclusão da acessibilidade como diretriz e principio para a tomada de decisões sobre mobilidade urbana é essencial.
Por fim, despeço-me com as palavras do filósofo  Soren Kierkergaard: “A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.”.
Então amigos, olhemos para frente e vivamos, sempre...

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