terça-feira, 2 de abril de 2013

Simplesmente Francisco


Por Manuela Modesto
Na última quarta-feira cheguei em casa e liguei a televisão para acompanhar embasbacada o discurso do novo Papa, Francisco. Surpreendeu-me a simplicidade de um homem que recebia de Deus tão grande missão. Na verdade, a surpresa era geral...

Fiquei em silêncio, chorei, refleti, já que só podia ser a mão do espirito santo iluminando as mentes da maioria de cardeais europeus que, contra todas as expectativas, elegeu um papa latino-americano, jesuíta e simples na essência de suas ações e pensamentos.

Penso que foi o modo mais fiel do criador falar ao povo, ao mundo, a nós... Aproximar a igreja, que às vezes nos parece tão distante apesar de ter surgido das ideias de um humilde carpinteiro que pregava o amor e a misericórdia, do seu povo tão necessitado de paz e principalmente de fé.

Anteriormente ao resultado do concilio, tinha lido as colocações de um padre jesuíta, Gianpaolo Salvini, de que a probabilidade de um jesuíta ser eleito papa era remota já que essa ordem prega o trabalho missionário e que os seus padres procuram evitar os caminhos dos bispos e cardeais, por isso existia apenas um cardeal jesuíta votando no concilio, o mesmo que é hoje o nosso papa.

Por essa lógica desacreditei no impossível, até Deus me mostrar novamente, que o impossível pode ser real, basta termos fé...

Li outro dia no celular do meu chefe a frase de Walt Disney aos 19 anos: “Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor.” A frase de Walt Disney é fantástica para nos motivar não só a acreditar que tudo é possível, quanto para nos lembrar da importância da fé.

Acredito que só quem tem perseverança, entusiasmo e otimismo continua firme para atravessar as adversidades e conseguir chegar ao limiar das fronteiras do “impossível”... Estiverem nele grandes homens como Albert Einstein, Santos Drummond, Leonardo da Vince, Beethoven, Madre Tereza de Calcutá, Juscelino Kubistchek, e tantos outros que escreveram o nome na história.

Por outro lado, muitos que cruzam nossos caminhos conseguem feitos impensados, que nos chacoalham ao questionamento sobre os limites que impomos a nossa vida. Um exemplo claro dessa afirmação estava estampado no jornal do ultimo domingo, 17/03/13, com o título “ Desafio à lei dos mais fortes”.

Essa reportagem narra à história real de um rapaz de 17 anos pobre, mulato, estudante de escola pública e morador de um dos mais violentos bairros do Recife, Coelhos. Ele tinha conseguido a segunda melhor classificação no vestibular de direito da Universidade Federal de Pernambuco, terceiro curso mais concorrido da universidade mais disputada do estado, sem optar por usar o Sistema de Cotas, apesar de ter todos os direitos perante a lei.

O menino Higor confiava nele e estava convicto que faria boas provas e assim optou pela concorrência livre para não ter o risco de enfrentar a burocracia de apresentação de dezenas de documentos comprobatórios de suas condições de cotista, arriscar perder a vaga e adiar o seu sonho de se tornar um defensor público para lutar pelos direitos dos menos favorecidos pelas politicas publicas.

Emocionei-me, novamente, por ver nas palavrar daquele menino a voz de Deus nos lembrando de que nada é impossível quando se tem fé.

E, assim, mais uma vez, surgem pelas paisagens da vida pessoas e eventos que nos provam que nada está perdido, que o mundo é menos cartesiano do que acreditamos e que a vida sempre nos apresentará milagres, que nos fazem ter orgulho de sermos homens e gente, na sua dimensão mais verdadeira.

Por isso não me canso de ser otimista e de pregar a minha fé, mesmo quando não entendem ao certo o que estou dizendo e fazendo... Conto, sem medo de parecer tola, crédula ou ingênua, que se eu não acreditasse que Deus estava me dando respostas e tranquilizando o meu coração nos momentos posteriores ao acidente e a tragédia que vivi, não conseguiria estar aqui agora viva, trabalhando, escrevendo e porque não dizer, feliz...

A maioria das pessoas acredita que estar paraplégica e ter que usar uma cadeira de rodas para se locomover é sinônimo de infelicidade, mas não é... Hoje, considero-me feliz por poder conviver com meus sobrinhos e minha família, que valem qualquer esforço, por poder ajudar na luta por acessibilidade da minha cidade e no meu estado e por ver os projetos se tornando realidade, por trabalhar e saber que a minha presença faz a diferença.

Sei que nada será como antes e mesmo quando eu voltar a andar e tenho fé que isso acontecerá, já serei uma pessoa completamente diferente e que minha visão de mundo mudou e se ampliou a anos luz com essa experiência.

Lembro que há dois anos um médico de um dos melhores hospitais do Brasil me disse que eu nunca conseguiria ficar em pé sem ajuda de equipamentos ou pessoas, disse-me que pelo grau de lesão que tive, o simples ato de ficar em pé era impossível. Deus me dizia o contrario e internamente eu sabia que o médico estava completamente enganado.

Hoje, em um dos melhores hospitais de Pernambuco, público e com pessoas de fé, todas as semana fico em pé, sem auxilio e tenho fé que de lá sairei andando um dia, qualquer dia...

E voltando a refletir sobre a importância da fé e da religião nas nossas vidas, o novo Papa, Francisco, renovou as nossas esperanças nos homens e na igreja por ter como referência o principio de resgate da dignidade humana.

Enfim numa época de vazios de ideais e de filosofias para completar as nossas inquietações por respostas a formação do mundo, consolidação das sociedades, as religiões voltaram a ocupar o seu papel essencial de estruturação dos pensamentos.

Como diria o Frei Clodovis Boff, irmão mais novo de Frei Leonardo Boff: “A modernidade não tem mais nada a dizer ao homem pós-moderno. Quais as ideologias que movem o mundo? Marxismo? Socialismo? Liberalismo? Neoliberalismo? Todas perderam credibilidade. Quem tem algo a dizer? As religiões e, sobretudo no Ocidente, a Igreja Católica.”

Acredito nos homens e em suas boas intenções de querer fazer o melhor, acredito no Papa Francisco I, ou melhor, no Papa, Simplesmente Francisco.

Por fim, findo o artigo com as palavras de outro Francisco, o Chico Buarque de Holanda:

“Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão”
(Trecho da Música Sonho Impossível de Francisco Buarque de Holanda)

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