segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sobre vidas e sonhos


Por Manuela Dantas, deu também no Blog de Jamildo
Fui uma criança inquieta e sonhadora. Quando eu parava, a minha quietude já era sinônimo de que algo estaria tramando, segundo o meu pai, decerto que eu vivia planejando uma nova brincadeira, uma nova estripulia, uma nova missão... Mas, por vezes parava para refletir.
Sonhava em ser tão inteligente quanto o meu pai, tão generosa como a minha mãe e tão bonita como a minha irmã. Com o tempo descobri que não seria nada disso, teria minha própria identidade, mas até que essa compreensão chegasse, gastei muita energia tentando provar valor para todos, ou para mim mesma.
Vivia procurando pelo desconhecido, ou como diria a Camille Claudel: “Há sempre algo de ausente que me atormenta”.
Nessa procura insensata por mim, tomei muitas decisões que me levaram a sofrer diversas vezes... Não foi fácil sair da minha casa em Recife e dar de cara, sozinha, com uma cidade enorme como São Paulo para fazer mestrado, mais tarde foi mais difícil ainda deixar o namorado e Recife para seguir carreira de engenheira no interior do Pará, muito, mas muito difícil mesmo, foi ver que nem sempre as coisas acontecem como planejamos e que muitos sonhos teimam a se perderem em meio ao vão.
Quando finalmente eu compreendi que estava no caminho correto, estava trabalhando com o que eu queria trabalhar, estava na obra que eu queria estar, na empresa que eu queria estar, no cargo que eu queria estar e perto das pessoas que eu queria estar, tive o trágico acidente que me parou bruscamente...
Briguei com meu corpo, com minha mente e com a nova realidade, queria voltar ao meu lugar de qualquer maneira, queria contribuir com o Nordeste e com o Brasil e entendia que aquela missão era a forma de dar o meu legado de contribuição. Não consegui voltar, mas dei sem saber o meu legado de contribuição...
Demorou muito até eu entender que a grande perda que tive, trouxe também o que eu procurava, trouxe a descoberta de quem eu era e qual era o meu propósito na vida.
Percebi que os dias que eu contava dentro do hospital e que demoravam séculos para passar em busca da reabilitação total, que eu entendia como sendo o momento que eu voltasse a andar, não poderiam passar apáticos e sem vida e foi assim que desisti de apenas ser paciente para ser Manuela, a moça que adora cantar Chico Buarque, ama conversar sobre política e os assuntos relacionados ao nosso país e que gosta de presentear a todos com sorrisos e orações.
Hoje fazem exatamente 3 anos do acidente que me deixou paraplégica, não posso negar que minha vida mudou para caramba, não posso fazer muitas coisas que eu fazia antes, mas passei a fazer muitas coisas que eu não fazia.  Passei a escrever, por exemplo, e confesso que é bem legal saber que minhas palavras e os meus sentimentos inspiram muitas pessoas que eu nem sequer conheço, pessoas que me param no shopping, em um show, em um restaurante, para me cumprimentarem por um artigo, por uma posição, pela coragem, pelo incentivo, pela vida e isso, meus amigos, não tem preço.
Como também não tem preço constituir sonhos, encontrar parceiros e conseguir construir novas realidades e assim se formam missões e essa se tornou a minha missão, colaborar e juntar forças para tornar a nossa cidade e o nosso estado locais acessíveis a todos e bons para se viver com dignidade, afinal somos gente que quer viver o nosso amor, nosso suor, gente que quer carinho e atenção, gente que quer viver a nossa cidade e ser feliz.
Inspirada pelos pensamentos de São Francisco de Assis findo essa conversa com um convite, uma provocação, um sonho: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.”.

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