sábado, 23 de novembro de 2013

Irmãs mostram os bons resultados de creche destinada a pessoas com paralisia cerebral

São quatro irmãs, três delas Maria e uma Ephygênia (“isso mesmo, caro jornalista, com ph e y”). O que elas fazem deixa muita gente corada de vergonha. Sabem o que é dedicar uma vida, dia e noite, às necessidades e aos cuidados de criança e jovens carentes com paralisia cerebral? Pois é isso, tarefa que muitos não têm coragem de assumir. E nem pensem que há recompensa material. Não. É uma causa que elas abraçaram para não deixar desamparado quem precisa de um lar, carinho e amor.

Maria Amélia Pinto da Silva, de 79 anos, Maria Lídia Costa Pinto, de 80, Maria do Carmo Costa, de 77, e Ephygênia Costa Pinto, de 85, são as quatro irmãs. Quem ensinou o caminho até elas foi a menina Julia Fernandes Rodrigues Macedo, de 9 anos, que juntou 80 garrafas PET de dois litros cheias de lacres da latinhas de cerveja e refrigerante e as trocou por uma cadeiras de rodas para doar aos internos carentes da Creche Tia Dolores. As Marias e a Ephygênia são as responsáveis pela instituição.

Bom para Adriano, que, em 27 anos, nunca entendeu o redor de sua vida por causa da paralisia cerebral, mas sente que é querido, amado. Só não sabe, e nem precisa, que é também respeitado. Na Tia Dolores, ele não é diferente de ninguém. É simplesmente Adriano, gente da casa. Essa história começou há quase duas décadas, quando Maria Amélia e Maria do Carmo trabalhavam no Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus e sentiram que tinham mais para dar, ampliar o atendimento aos deficientes.

Convidaram Maria Lídia e Ephygênia. “Aceitamos”, disseram as duas. Mas onde? Procuraram as primas, filha de Dolores, dona de um imóvel de proporções razoáveis no Bairro Saudade, Região Leste de BH. Reuniram-se, planejaram e convidaram amigos para ajudar. O começo foi difícil. “Fizemos churrascos, bazares, rifas, feijoadas para arrecadar fundos. O Waldir Silva (músico falecido recentemente) fez um show para nós e com o dinheiro compramos a primeira máquina de lavar”, diz Ephygênia.

Os primeiros hóspedes foram chegando, enviados pela Pastoral da Criança, Conselho Tutelar e até pelo Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus. “Recebemos até bebê com menos de 2 anos. E a gente saía pelo bairro, com cestos cheios de fraldas para a vizinhança lavar”, conta Ephygênia. Era um tempo em que a fralda descartável não estava ainda popularizada ou acessível e ao bolso do consumidor de média ou baixa renda. E um interno pode sujar seis ou mais fraldas por dia.

As instalações da Creche Tio Dolores hoje são adequadas ao atendimento, mas demandou muito trabalho, mesmo depois de instalada. “Ficava ao lado da casa de nossas primas e precisávamos ampliá-la. Procuramos as primas e elas disseram que se comprássemos outra casa para elas nos cederiam o imóvel.” E começou outra batalha para as irmãs. Conseguir doações em dinheiro para a concretização do negócio e de um sonho. Montaram um serviço de telemarketing e como a causa é nobre, a ajuda veio. Faltava a obra de ampliação.

Os donos de duas empresas locadoras de veículos cuidaram da construção do anexo. Da planta à execução do projeto. A casa tem hoje 16 internos, oito mulheres e e oito homens. As irmãs contam com a ajuda de sete voluntárias. Uma delas, Cleuza, desde a fundação da casa, em 1995. O trabalho é delicado. O portador de paralisia cerebral é totalmente dependente. A comida, praticamente líquida, é colocada diretamente na boca ou via parenteral. E é preciso entendê-los pelos gestos e reações. É a única forma de comunicação que eles têm.

É reforçar que não é uma internação provisória. É permanente. Desde que entra na casa, a criança ou o jovem passam a ser filhos das Marias, da Ephygênia e das sete voluntárias. A maioria tem parentes, pais e irmãos e raro é a mãe, que às vezes mora até perto, aparecer para ver o filho. ”Só uma mãe e um avô de um dos meninos vêm todas as semanas. Enfim, eles são nossos. Já perdemos cinco ou seis, o que nos dói muito”, diz Ephygênia. A assistência médica e hospitalização são garantidas pelo Hospital São Camilo. Há quem doa os remédios ea casa conta com o apoio de um fisioterapeuta.


“Nossa missão é procurar dar amor e a melhor qualidade de vida a eles. Tudo o que fazemos é pensando neles”, afirma Ephygênia. Entre os internos, Irislene Aparecida da Silva, de 21 anos. Não é portadora de paralisia cerebral. Chegou à casa ainda criança, com 3 anos, enviada pelo Conselho Tutelar de Divinolândia de Minas, no Vale do Rio Doce. Ele tem artrogripose congênita, doença que afeta as articulações. Ela acabou de concluir o ensino médio e faz o trabalho de secretária da Creche Tia Dolores. Tem a pintura como hobby e já vendeu muitos quadros para ajudar a instituição. “Vendo todos”, diz. Gosta de TV, de funk e é feliz. Conhecer e ajudar a Tia Dolores é fácil. Está na internet:www.tiadolores.org.br/

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