Ela quer cursar design de interiores na UFG: 'Minha vida
está nessa prova'.
Estudante de 21 anos faz leitura labial para entender as
aulas no cursinho.
A estudante Amanda Oliveira dos Santos, de 21 anos, é
surda desde os 5 anos e integra os mais de 30 mil candidatos que realizam a
primeira fase do vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG) neste
domingo (10). A jornada para tentar cursar design de interiores começou há um ano
e meio, quando deixou família e amigos e se mudou de Rondonópolis (MT) para
Goiânia. "É a minha vida que está nessa prova, meu sonho", afirma.
Amanda conta que até os 5 anos ouvia normalmente. “Um dia
fui assistir TV, minha mãe gritou meu nome várias vezes e não dei nenhum sinal.
Ela foi reclamar que tinha me chamado e foi aí, quando ela estava na minha
frente falando comigo, que olhei para a boca dela e percebi que tinha algo de
errado. Não ouvia nada e comecei a chorar”, relata.
Desde então, mãe e filha percorreram diversas cidades do
país em busca de tratamentos e fonoaudiólogos. “Quem vê pensa que estávamos
passeando. Não foi nada fácil, sofremos muito, mas demos a volta por cima”. O
diagnóstico foi perda auditiva bilateral profunda. Sem aparelho auditivo,
Amanda afirma que consegue escutar no máximo 20%.
Em um primeiro momento, o uso do equipamento não foi bem
aceito pela estudante: “Por várias vezes, eu recusava usar aparelho. Tinha
vergonha porque não me sentia uma pessoa normal. Hoje, eu venci o preconceito,
não tenho a mínima vergonha de usar. Pelo contrário, tenho é orgulho”.
O aparelho eleva o percentual de audição a até 90%. Ainda
assim, a estudante relata que há obstáculos, como o barulho de telefone,
músicas ou pessoas que falam de costas. “É complicado. Eu não consigo ouvir
perfeitamente e preciso fazer leitura labial."
Vestibular
Esta não é a primeira vez que Amanda encara o desafio do
vestibular. Ela já cursou ciências contábeis, quando ainda morava no Mato
Grosso, mas o alto custo da universidade não possibilitou que ela seguisse os
estudos. Mudou-se para Goiânia, onde se sustenta com um salário mínimo, valor
recebido como benefício do governo.
A estudante se dedica em tempo integral à preparação para
o vestibular. A motivação é o sonho de cursar design de interiores, onde espera
exercer o dom natural para o desenho. “Sinto-me ansiosa, não pensei que ficaria
assim. Mas estou me acalmando, claro. Pois, com nervosismo tudo dá errado,
correto? Estou otimista e me sinto preparada", diz.
Para atender a aluna com surdez, os professores do
cursinho tiveram que adaptar suas aulas e até o conteúdo audiovisual exibido em
sala, que requer legendas. Segundo a professora de literatura Larissa Leal, a
maior mudança é no costume de falar enquanto escreve no quadro negro, de costas
para a turma.“Não é muito fácil adaptar quando você já tem um tempo de sala de
aula e está acostumado a fazer assim. Tenho sempre que me lembrar de falar de
frente para ela”, afirma a professora.
Segundo Amanda, a receptividade dos professores e dos
colegas faz diferença em sua preparação para o vestibular. “É incrível, as
pessoas são humanas. Mesmo que não me conheçam tão bem, eles querem ajudar no
que puderem”.
Para ela, as barreiras impostas pela surdez não devem ser
motivo para desistir de um sonho. "Se a pessoa luta pela deficiência
auditiva, tem que lutar também para conseguir entrar numa boa universidade. Se
você quer uma coisa, luta até conseguir, mesmo que o tempo passe",
aconselha.
Fonte-G1
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