Após 15 anos de trabalho, pesquisadores de Sergipe
conseguiram desenvolver um software capaz de auxiliar o aprendizado de
português e matemática de alunos do ensino fundamental que apresentam
transtornos de aprendizagem.
O programa, intitulado EnsCer (Ensinando o Cérebro), foi
desenvolvido a partir do conhecimento neurocientífico sobre o processamento
cognitivo cerebral dos próprios estudantes que tinham déficit de atenção ou
dislexia, por exemplo.
A partir da leitura dos mapas cerebrais dos alunos, com
ajuda de eletrodos, aliado ao desenvolvimento de modelos matemáticos, os
pesquisadores conseguiram analisar as dificuldades específicas dos estudantes.
Depois que o aluno responde a uma série de questões de matemática e português,
o software consegue indicar àqueles com transtornos de aprendizagem, um roteiro
de assuntos que precisariam gastar mais tempo para melhor compreender. A partir
daí, os estudantes têm acesso a uma série de exercícios e atividades
complementares que os auxiliam na recuperação do conteúdo.
Os testes foram feitos com 1.271 participantes e cerca de
30% apresentaram, em algum nível, um determinado tipo de transtorno de
aprendizagem. Esses 382 alunos foram monitorados durante o ano letivo de 2010 e
tiveram uma melhora de desempenho de 16% em português e 12% em matemática. De
acordo com o relatório, que resume os dados da pesquisa: “o resultado positivo
pode ser constatado em 2010 e novamente no ano seguinte. Além disso, professores relataram uma significativa
melhoria no comportamento destes alunos, provavelmente decorrente do fato deles
passarem a conseguir acompanhar os conteúdos das aulas”.
Para o cofundador e pesquisador do Instituto de Pesquisas em Tecnologia
e Inovação (IPTI), Saulo Barreto, a neurociência vai ajudar a educação. “Quando
se estuda o cérebro do ponto de vista neurofisiológico, dá para perceber que
ele adota certos caminhos e certas conexões. Dependendo do tipo de problema
neurocognitivo do aluno essas conexões podem adotar outros caminhos. Buscamos
entender melhor esse processo para que dessa forma possamos conhecer as
dificuldades de cada estudante”, explica Saulo Barreto.
Próximo passo
Depois do resultado satisfatório do projeto experimental,
em 2012 os pesquisadores do IPTI decidiram reformular a plataforma do EnsCer
com o objetivo de torná-la mais robusta. Desde então, está em processo de
desenvolvimento uma nova versão atualizada do software. Intitulada Synapse, o
novo programa visa auxiliar alunos do ensino fundamental no processo de
alfabetização. Ou seja, agora o foco não é apenas aqueles estudantes que têm
transtornos de aprendizagem.
A
ideia é, após o mapeamento das dificuldades dos alunos, sugerir materiais
didáticos adequados a serem trabalhados em cada sala de aula. “Antes nosso
trabalho era feito apenas no contraturno e com um contato mais direto com o
aluno, agora queremos ir para dentro das salas de aulas e levar essa ferramenta
ao professor. Mas sabemos que uma mudança dessa exige paciência e sem o apoio
dos educadores não podemos chegar a lugar algum”, fala Barreto.
Para o próximo passo da empreitada, já foram selecionados 150 alunos
divididos em seis turmas, todos eles estudantes do 1o ano do fundamental de
quatro escolas da cidade. A ideia é testar a plataforma com esses alunos e
comparar os resultados obtidos por eles com os de outros estudantes que não
participarão da pesquisa. A plataforma estará acoplada a um outro software de
gestão escolar, incluindo dados de frequência e desempenho, tudo isso para
melhor facilitar a leitura dos resultados pelos professores. O monitoramento
começará, no entanto, apenas a partir do próximo ano letivo. “Nosso sonho é que
cada aluno possa aprender aquilo que ele deve aprender na sua respectiva idade.
Esperamos depois de colher os resultados, levar, nos próximos anos, essa
tecnologia social a escolas de outros 4.900 municípios que possuem menos de 50
mil habitantes”, fala Barreto.
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