O físico britânico Stephen Hawking, 71, não só sobreviveu
muitas décadas além do seu prognóstico médico inicial como o fez por tempo
suficiente para escrever suas próprias memórias.
Com o inspirado título "Minha Breve História"
(motivado pelo best-seller que projetou Hawking para a fama, "Uma Breve
História do Tempo"), o pequeno livro, de 144 páginas, não é a obra
detalhista e exaustiva que um fã do cientista poderia esperar.
Por outro lado, já há ao menos duas biografias dele
bastante completas (por Kristine Larsen e Leonard Mlodinow).
A virtude de "Minha Breve História" é trazer a
perspectiva da primeira pessoa a uma incrível história de superação e sucesso
intelectual.
Sobre isso, Hawking é modesto. Ele só menciona sua
"crescente dificuldade", sem detalhar sua convivência de décadas com
a esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa que mata em poucos
anos (o caso de Hawking é incomum, e ele é o mais longevo do mundo a receber
esse diagnóstico).
INFÂNCIA
Hawking conta sobre sua infância, pouco conhecida, e
revela detalhes curiosos, como o fato de que só aprendeu a ler na
"extremamente tardia idade de oito anos" e de sua paixão por trens de
brinquedo e, mais tarde, aeromodelos. As fotos que acompanham o texto são um
dos destaques da obra.
"Meu objetivo sempre foi construir modelos que
funcionassem e que eu pudesse controlar", conta. Esse desejo de
compreender como as coisas funcionam seria a motivação básica para perseguir
uma carreira em física e cosmologia, segundo ele.
Hawking estava fazendo seu doutorado quando recebeu seu
diagnóstico. "A percepção de que eu tinha uma doença incurável que
provavelmente me mataria em poucos anos foi um tanto chocante. Como algo assim
poderia acontecer comigo?"
"No entanto, enquanto estive no hospital, um menino
morreu de leucemia na cama à minha frente, o que não foi algo bom de ver. Era
óbvio que havia pessoas em situação pior do que a minha."
Resultado: Hawking optou pela vida. Casou-se duas vezes,
teve três filhos, mergulhou na pesquisa e fez a famosa previsão de que buracos
negros emitem radiação.
"Acho que a maioria dos físicos teóricos concordaria
que a minha previsão de emissão quântica de buracos negros está correta, embora
ela ainda não tenha me valido um Prêmio Nobel, porque é muito difícil
verificá-la experimentalmente."
Sua história traz uma mensagem importante, que Hawking
sabe resumir bem. "Tive e tenho uma vida completa e prazerosa. Acredito
que pessoas com deficiência devem se concentrar nas coisas que a desvantagem
não as impede de fazer, e não lamentar as que são incapazes de realizar. No meu
caso, consegui fazer quase tudo o que queria."
O físico se esquiva dos rumores de que sofria abuso
físico de sua segunda mulher, que antes trabalhava como sua enfermeira.
"Meu casamento com Elaine foi apaixonado e tempestuoso. Tivemos nossos
altos e baixos, mas o fato de Elaine ser enfermeira salvou minha vida em
diversas ocasiões."
No fim, o livro se concentra, de forma resumida e talvez
impenetrável para quem nunca leu sobre seu trabalho, nas contribuições que ele
deu à física. "Fico feliz se acrescentei algo ao nosso conhecimento do
Universo."
Fonte-Folha de São Paulo e blog Deficiente Ciente
Nenhum comentário:
Postar um comentário