Há quem não faça tanta questão de exercer o direito do
voto neste dia 5 de outubro. Porém em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, uma
paciente com esclerose lateral amiotrófica (ELA) deixou pela primeira vez o
hospital onde mora há dois anos para ir à urna. Otávia de Pontes Bandeira, 30
anos, não tem movimentos nos braços e nem nas pernas, mas, ainda assim, decidiu
que iria votar. Acompanhada da mãe, ela saiu do hospital para a seção.
Quando chegou ao local de votação, Otávia foi auxiliada
pela presidente da seção e por um mesário. A mãe dela, Maria dos Anjos de
Pontes, com quem se comunica por leitura labial, digitou os números dos
candidatos. "Foi ótimo, foi maravilhoso. É como se fosse o casamento da
Otávia", comemora. Maria dos Anjos também reproduziu as palavras da filha:
"Eu gostei porque eu exerci minha cidadania".
Emocionada, a médica Rosangela Fonseca comenta que valeu
a pena todo o esforço. "A sensação é de dever cumprido. A gente conseguiu
realizar o sonho de uma paciente que vive no hospital há dois anos. E, inclusive,
ela se emocionou muito durante o trajeto porque foi reconhecendo as ruas, disse
que estava com muita saudade. Encontrou as amigas. É muito gratificante".
Levá-la ao lugar da votação exigiu plajenamento da
unidade de saúde e de profissionais. "Fui verificar se havia condição. Daí
eu pensei na estrutura. Em pegar a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] Móvel e
conduzi-la até o local de votação. Pedi autorização ao hospital e a gente conseguiu.
É a primeira vez que ela está saindo. Ela é lúcida, consciente, orientada, tem
a memória, a cognição. Então, pode votar e exercer o direito da
cidadania", diz a clínica geral e intensivista Rosangela Fonseca.
O trajeto para a escola onde fica a seção de Otávia foi
acompanhado também por um fisioterapeuta, que cuidou do equipamento que auxilia
na respiração. "Na área da fisioterapia, a gente tentou deixar ela o mais
confortável possível para que ela conseguisse chegar tranquila, na parte de aspiração",
pontua o fisioterapeuta Diogo Cardoso.
Na escola, um grupo de amigas aguardava Otávia. "A
mãe dela entrou em contato com a gente e viemos aqui para esperar. A gente
escolheu um cartaz porque é uma coisa simples e de coração. Ela é uma
superação, uma motivação. Quando a gente chega lá [no hospital], ela está
sempre rindo. Nunca a vi triste, apesar da situação. Ela é uma superação de
vida mesmo. Para quem não gosta ou não quer vir às urnas tem que ver isso,
porque é incrível a vontade dela de mostrar a democracia. Ela é uma guerreira mesmo",
comenta a vendedora Amanda Barbosa.
Para Maria dos Anjos, a filha é um exemplo para as
pessoas. "Eu acho muito importante até porque é o dia da eleição, né? É
muito importante você escolher o candidato. Vejo outras pessoas dizendo 'Ah, eu
não vou não' e eu pergunto o porquê. Eu acho muito importante você escolher seu
administrador. Minha filha é um exemplo de cidadania. Ela tinha que votar. Se
ela não votasse, iria ficar muito triste. Quando confirmou [que iria votar], o
sorriso foi escandaloso".
Sobre a doença
De caráter progressivo e com incidências 10% genética e
90% esporádica, a ELA afeta os neurônios responsáveis pelos movimentos do corpo
e causa a perda do controle muscular. Famosos aderiram ao "desafio do
balde de gelo”, uma campanha que pretende chamar a atenção para o mal
degenerativo. Além de ser uma doença ainda sem cura, a esclerose amiotrófica
tem um diagnóstico difícil. São necessários cerca de 11 meses para detectar a
doença. Os únicos tratamentos que existem buscam retardar a evolução da doença.
No Brasil, há medicação oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas,
segundo especialistas na doença, na maioria dos casos, só há fornecimento
quando o paciente já perdeu cerca de 50% dos neurônios motores
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