Um robô desenvolvido por uma empresa francesa está
ajudando no tratamento do autismo e no cuidado de idosos. O projeto foi uma das
inovações apresentadas na Joint Conference on Robotics and Intelligent Systems
(JCRIS) 2014 que terminou nesta quarta-feira (22), na Universidade de São Paulo
(USP), em São Carlos. Criado com o intuito de contribuir para o bem estar dos
seres humanos, o robô Nao - palavra que significa cérebro em chinês - foi
lançado em 2007 e pode ser programado para desempenhar diversas funções como
ferramenta educativa e interativa para crianças e adultos.
Desenvolvido pela empresa francesa Aldebaran Robotics,
Nao tem 57 centímetros de altura e é equipado com câmeras no lugar dos olhos,
microfones para responder aos comandos de voz, autofalantes e sensores
variados. Além disso, ele possui dois processadores e acesso à rede de internet
sem fio. O robô é capaz de ler e-mails e respondê-los por meio de uma conversa com
o usuário, por exemplo. Hoje, já existem no mundo mais de 450 instituições que
utilizam o Nao, entre elas a USP São Carlos e a Harvard University.
Matheus Mainardi, da Somai Tecnologia e Educação, empresa
que representa a Aldebaran no Brasil, explica que a aplicação do robô para
auxiliar em casos de autismo teve início de forma espontânea. “Ele foi
apresentado em um evento e uma criança autista começou a brincar com ele. Como
é um sistema que não possui emoções, a interação fez com que as pessoas que
possuem essa disfunção se sentissem mais à vontade para brincar com ele. Assim,
depois de alguns estudos, foi constatado que o Nao podia funcionar como um
canal direto de comunicação entre um autista e outras pessoas”, declarou.
Pensando nisso, a empresa francesa lançou em 2013 o Autism Solution for Kids
(ASK) para o Nao, dedicado às necessidades especiais para o ensino dessas
pessoas.
Mainardi explicou que o fato de permitir programação
específica para realizar funções diferentes faz o robô ter possibilidades
infinitas de aplicação. “Estamos apenas no começo. Ele é capaz de mostrar na prática
algumas coisas que aprendemos apenas em teoria. Campos como a robótica, a
matemática, a ciência da computação e a engenharia são muito melhor trabalhados
por meio desse equipamento. Mesmo se contarmos apenas com as funções já
conhecidas do Nao, as aplicações são infinitas. Imagine então quando mais
pessoas passarem a programar seus próprios códigos e fazer suas próprias
demandas ao robô”, pontuou.
Próxima etapa
A Aldebaran já prepara outra versão do Nao, o “irmão mais
velho” dele, Romeo. A nova versão está em desenvolvimento desde 2009, mas já
foi apresentada. Dessa vez, o alvo foi a população idosa, que poderá contar com
a ajuda do robô. Ele tem 1,40 metro e pode ajudar pessoas que perderam sua
autonomia auxiliando em atividades como abrir portas, subir escadas e até
buscar objetos.
Aplicações e uso
No caso da RoboCup de futebol, que aconteceu durante a
JCRIS, um time de Naos foi programado para desempenhar funções em campo como
goleiro, zagueiro ou atacante. Assim como nos jogos entre humanos, os robôs
eram vítimas de faltas e empurrões, sendo jogados no chão pelos outros em
alguns momentos. Mesmo assim, sem nenhum tipo de intervenção humana, o robô se
levanta sozinho com o apoio das mãos e volta à partida como se nada tivesse
acontecido.
Em 2012, o G1 mostrou um sistema desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação
(ICMC) da USP em São Carlos, que fazia com que Nao
reproduzisse gestos realizados por humanos. A pesquisa tinha como objetivo
auxiliar pacientes em fisioterapia, além de promover a interação com crianças
do ensino fundamental.
O humanóide, termo atribuído aos robôs que se assemelham
a humanos, pode ser adquirido apenas por empresas ligadas ao ramo da educação
ou, em alguns casos, de tratamento de determinadas condições como o autismo. As
instituições interessadas em adquirir o Nao devem enviar uma inscrição ao
Somai, que vai avaliar e aprovar o pedido caso se encaixe nas categorias
requisitadas.
No entanto, Mainardi explica que logo o sistema deve
estar aberto ao público. “Ele ainda pode ser considerado um protótipo, mesmo
com tantas funções, já que ainda existem muitas outras a serem descobertas. Ele
ainda está sendo testado, de certa forma. Quando for julgado que está pronto
para atender ao público da melhor forma possível, com certeza deve ser
comercializado abertamente”, afirmou.
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