quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Opinião.Até quando? – Por José de Aguiar Machado Filho

Do Jornal de Caruaru


Além do sofrimento sem proporções físicos e psicológicos que essas pessoas atravessam, somam-se o descaso do governo e a barreira da discriminação por elas sofridas. Minha amiga, Yoko Farias, em 2004 era promotora e sofreu um fatídico acidente numa cama elástica quando outra pessoa caiu em cima do seu pescoço num Shopping da zona norte aqui em Recife. A mesma lesionou uma vértebra, tornou-se tetraplégica e até hoje não recebeu nenhuma indenização das empresas envolvidas no caso. Um preço caro que a mesma paga até os dias atuais.

Caso parecido aconteceu com a ex-atleta esquiadora Laís Souza que está tetraplégica. Lesionou a terceira vértebra. Não mexe pernas nem braços. Treinava para participar dos jogos olímpicos de inverno quando caiu. O seguro pagou a operação e o tratamento. Mas não vai pagar mais nada. Porque o seguro de vida ou invalidez contratado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, e pela Confederação Brasileira de Desportos na Neve, só cobre acidentes que aconteçam durante as competições, e não durante o treinamento. Ela, sendo famosa e com todo aparato midiático envolvido no seu caso está penando com o desdém no qual o sistema e leis que aqui regem,imaginem os outros milhares espalhados por nosso Brasil que também passam por dificuldades parecidas.
Todos sabem que as pesquisas para tentar-se uma melhora nesses casos,geralmente com células-tronco, ainda engatilham. São caras, e geralmente ainda há uma remota possibilidade de tentar a sorte em outros Países com um maior desenvolvimento nesses estudos específicos. Restando aos que ficam aqui a fé, a persistência, a garra, e a força para lutarem contra as adversidades que essas fatalidades marcaram suas vidas. Vivem de ajudas de amigos, parentes, e por vezes, do difícil trabalho exercido por eles que na maioria é um quantitativo mísero, que mal pagam-se as despesas altas ao que são imputadas. 
Num último desabafo de minha amiga, ela tornou-se uma espécie de porta voz de todos que têm seus gritos de revolta ecoados ao vento, e veem o dia a dia passar e nenhuma mudança ou projetos serem criados para esses casos.A mesma diz em texto divulgado com milhares de compartilhamentos em redes sociais o seguinte: O texto é longo, mas um desabafo!
´´Tenho limitações severas e ainda assim só me lembro de quando as barreiras físicas e atitudinais impostas são contrárias. Ainda assim tem gente por aí que reclama de tudo e por qualquer besteira. E quando isso acontece eu falo, quer depender de outra pessoa pra fazer suas necessidades básicas como tomar banho ou depender de um respirador pra sobreviver? Não me sinto coitada ou inferiorizada à ninguém. Não sou melhor, nem pior. Somos todos iguais nas diferenças. Sou uma pessoa forte graças à Deus mas tem hora que me sinto fraca por não ter condições financeiras pra pagar uma cuidadora nesse mês de dezembro e o restante do ano.

 E quem achei que poderia me ajudar nas minhas despesas e nos custos que não são baratos, me deram às costas. Sempre gostei da minha liberdade e no meu auge dos 20 anos me acidentei trabalhando no Shopping Plaza na zona norte de Recife e nunca recebi um centavo da empresa por qual fui contratada, nem do local onde aconteceu o acidente. Fiquei tetraplégica. Ainda assim, trabalhei por quase 3 anos no governo, sempre disposta em querer mudar a maneira que a sociedade vê que o deficiente não pode trabalhar, pelo contrário, somos tão quanto eficientes, desde que o local de trabalho tenham condições de adaptação e acessibilidade. 
Infelizmente não dei continuidade no trabalho, pelo cansaço físico e mental, e porque o transporte público é deficiente e passava horas esperando por ônibus adaptados e inúmeras vezes denunciaram. Ainda assim tive um problema no retorno do BPC (benefício de prestação continuada que é 1 salário mínimo), pela INEFICIÊNCIA do INSS e de INCOMPETÊNCIA DE UMA PESSOA, pois ainda estou sem receber o retroativo, acreditem!! Nesse Brasil acontece de tudo, inclusive sobreviver de 1 salário mínimo! Ou seja, amigos, a vida é uma luta, e é preciso matar mil leões por dia e mesmo assim orgulhar-se de si mesma, mesmo que o cansaço bata na porta. ´´ Yoko Farias.
Até quando o Governo e seus representantes ficarão nas promessas e irão continuar a fingir que há uma evolução a passo de tartarugas no tratamento dado com os que sofrem com alguma deficiência de modo geral? Até quando outras Yokos e Laízes surgirão amanhã e passarão pelos mesmos problemas sem terem a devida atenção necessária a ele(a)s? Até quando esse País dos Mensalões e Petrolões voltarão seus olhos aos que realmente precisam de dignidade e ajudas financeira e psicológica nessa dura tarefa que se tornou viver? Até quando continuarão sem o apoio para realizarem seus sonhos que se tornaram mais difíceis de serem realizados? Até quando iremos viver num modelo ultrapassado de terceiro mundo onde os cadeirantes não possuem igualdade de oportunidades para exercer os direitos que qualquer outro cidadão possui?
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José de Aguiar Machado Filho é radialista e Jornalista, escrevendo por vezes. Tenho como objetivo adquirir sempre mais e mais conhecimentos em diversas áreas a serem estudadas. Pois dessa vida o que temos de maior que ninguém tira é a sabedoria e o Amor. Sendo assim, que até meu último suspiro seja aprendendo e transcrevendo do pouco que sei e sinto sempre.

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