Por Tábata Contri.
Hoje não quero falar de normas, leis ou regras, quero contar para
vocês o que as pessoas sentem quando não encontram a acessibilidade que
precisam no lugar que escolheram ir.
Para isso contei com a ajuda de alguns amigos e seguidores do
Facebook, uns com deficiência, outros casados, irmãos ou amigos de
alguém que possui algum tipo de deficiência, e é incrível como um
depoimento completa o outro!
Alguns depoimentos trouxeram a palavra REJEIÇÃO, li que no hypescience
que pesquisas nos campos da psicologia e neurociência revelam que as
mesmas partes do cérebro que são ativadas quando as pessoas se sentem
rejeitadas também são ativadas quando elas sentem dor física. Porém, ao
contrário da dor física, a dor psicológica da rejeição pode ser revivida
por anos. E como as pessoas se sentem? Exatamente como se tivessem sido
socadas no estômago, só que a todo o momento.
Dá pra imaginar isso?
Então perguntei aos meus amigos, “O que vocês sentem quando não
encontram ACESSO no local que planejaram ir?” A seguir vocês lerão
alguns depoimentos que recebi e quem sabe, se for possível imaginar,
sintam um pouquinho o que é passar por isso. Vamos lá!
“Estive em um lugar lindo, porém sem qualquer acessibilidade… Fiquei
paradinha no local que achei mais seguro de onde podia observar minha
filha brincando no parquinho com o papai. Estava feliz por ver minha
filha feliz, mas com o coração apertado por querer participar e não
poder… por vê-la andando e olhando pra trás, pra mim, me chamando com o
olhar e eu não podia ir até ela… hoje chorei!
Em um lugar que um dia andei, me diverti, fui livre… (antes do
acidente), hoje me senti presa! Hoje me dei conta que estou diante do
maior desafio da minha vida, poder acompanhar o crescimento da minha
filha em um mundo deficiente, um mundo que não oferece liberdade a quem
tem limitações… Vocês que tem filhos e podem desfrutar desses momentos
com eles em qualquer lugar sem maiores preocupações… aproveitem,
arranjem tempo e disposição…
Enquanto uns tem preguiça, eu daria tudo pra ter essa mesma liberdade!” Elaine Cunha – cadeirante.
“Me sinto desconfortável naquele lugar, como se estivesse atrapalhando as outras pessoas…”.
“É louco isso porque ao passo que a acessibilidade é mera obrigação
legal, me parece inevitável a sensação de satisfação e surpresa, algo
como ótimo, as pessoas (não o Estado) pensaram nisso, se preocuparam com
isso”.
“Quando vou a bares, restaurantes e esses são acessíveis, eu
recomendo. Quando não, faço o contrário. Espalho pra todo mundo que o
lugar não tem acessibilidade e não sabe atender as pessoas!”.
“Sinto uma rejeição imensa, como se não fosse esperado, como se não
quisessem que eu estivesse ali, ou simplesmente como se quisessem que eu
existisse…”
“Fico “P” da vida, não costumo ir ao mesmo lugar novamente e faço o
possível para todas as pessoas que conheço também não irem, caso
perceba a falta de interesse de mudança no local quando informado ao
dono!
“Eu queria mesmo era poder ir a todos os lugares e não ter que pedir uma “mão” a ninguém”
“A maioria das lojas de rua, tem degraus enormes em suas portas e não
posso entrar, também não consigo entrar nas cabines e provadores, me
sinto desconfortável, mesmo que os vendedores sejam atenciosos, não dá!”
“Sinto tristeza e as vezes desanimo.”
“Me sinto um cidadão invisível, rejeitado pela sociedade onde vivo.”
“Acho horrível a sensação de chegar a um lugar e não ser como
esperava em questão de acessibilidade, principalmente quando planejo uma
viagem, antecipo e combino com a agência todas as questões e chegando
no lugar vêm as decepções.”
“Me considero muitíssimo desrespeitada e cobro atitudes. Confesso que
por muito tempo, achei que o melhor era aproveitar como dava e não me
estressar. Hoje, eu aproveito sim da forma que consigo, mas também
reclamo e por escrito para que possam tomar outras atitudes e que
possamos cobrar no futuro!”
“Não ter acesso é desconfortável apenas se eu precisar ser carregada
no colo, no mais não me abala. Não deixo de ir a nenhum lugar se não tem
acesso e nunca ligo antes pra perguntar se tem!”
“Nesses momentos me sinto excluída da sociedade, como se as pessoas
achassem que quem tem deficiência deve ficar em casa, me sinto invisível
e indesejada. É como se eu não fosse bem-vinda naquele lugar.”
“Tenho reparado e comparado com os EUA a atitude das pessoas, o que
me chama mais atenção é o RESPEITO. Nos EUA as pessoas nos dão passagem
nas calçadas, shoppings e afins, não importa o quão lotado esteja e não
fazem por pena, fazem por consciência e educação. No Brasil não nos dão
passagem e ainda nos olham com uma cara de quem diz “Porque você não
ficou em casa ao invés de vir atrapalhar meu passeio com essas
muletas/scooters e sua lerdeza?”
“Me sinto extremamente desrespeitada e indesejada, sério mesmo.”
“Sinto uma enorme frustração e confesso que um pouco de raiva por ver
que não somos vistos nessa sociedade, ao que me parece o mundo insiste
em acreditar que ficaremos trancados em casa…”
“Acho que a briga tem que ser comprada por nós que temos algum tipo
de deficiência todos os dias até entenderem que nós temos vida, e
queremos vivê-la!”
“A minha sensação é um misto de impotência e indignação e sem muita paciência atualmente.”
“Se sei que o local não tem acessibilidade, nem vou! Sou arquiteta e
cadeirante, sei da dificuldade para mudanças, mas estou cansada com as
situações recorrentes. Se vejo que o lugar não é acessível falo com toda
a educação que gostaria de utilizá-lo, mas, que por não oferecer
condições mínimas de acesso, isso não vai acontecer.”
“Essa semana mesmo fui comprar uma agenda, não consegui passar pelo
corredor, os funcionários queriam levar uma a uma para eu escolher, mas
disse não, porque gostaria de poder escolher sozinha. Eles ficaram
constrangidos eu agradeci, fui embora e liguei para uma central de
reclamações.”
“O sentimento é de indignação… Estive em Penedo na semana passada,
ficamos em um hotel bem gostoso, no centro, que dá para fazer tudo a pé,
mas jamais com meu irmão junto! A cidade vive praticamente do Turismo e
não tem nenhuma acessibilidade! Aliás, não tem calçadas!”
“Embora alguns locais já ofereçam acesso a nós cadeirantes, muitos
outros ainda deixam a desejar, e o sentimento não poderia ser outro, que
não, a INDIGNAÇÃO.”
“O sentimento é de indignação e revolta pela má administração do
dinheiro público e desrespeito com todos os cidadãos, porque
acessibilidade melhora a vida de todo mundo! Ah, e não quero voltar
mais! Onde não posso ir com meu irmão não é bom pra mim!”
“Vontade de sair gritando aos quatro ventos que TODOS temos direitos e
deveres, inclusive o direito de ir e vir e circular livremente onde
quer que quisermos, independente de termos deficiência ou não.”
Não vou escrever muito mais, aliás, esse artigo foi colaborativo.
Obrigada, de coração a todos que deixaram um pouquinho das suas
sensações ao encarar a falta de acessibilidade e conscientização no
Brasil.
Pois bem, depois de ler todos esses depoimentos, o que você sentiu? E
o que você pode fazer para transformar essa realidade? O que você pode
fazer para transformar esse sentimento de rejeição, em respeito e até em
negócio, porque não?
Fontes: BG LEGAL e Amanda Pereira
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