“Você
provavelmente jamais lerá esta carta. Mas escrevo mesmo assim, não como
torcedora de futebol, mas como professora argentina, essa profissão que
escolhi e pela qual sou tão apaixonada, como você pela sua.
Poderia
lhe escrever sobre a maravilha de seus talentos para o esporte mais
amado do país (...), mas isso seria repetir frases feitas. Então vou
pedir que me ajude num desafio muito mais complexo do que todos os que
você enfrentou até agora: quero que me ajude na difícil missão de formar
as condutas dessas crianças que o vêm como um herói e como um exemplo a
seguir.
Por
mais amor e dedicação que coloque no meu trabalho, jamais terei de meus
alunos esse maravilhoso fascínio que sentem por alguém como você. E
hoje verão seu maior ídolo se render. (...) Eu lhe peço: por favor não
renuncie, não os deixe acreditar que neste país somente importa ganhar e
ser o primeiro. Não lhes ensine que, apesar de tantas adversidades
superadas, apesar de lutar desde tão jovem para chegar a ser um homem de
sucesso, apesar de assumir responsabilidades desde cedo e ter lutado
até com barreiras físicas para alcançar seus sonhos, tudo isso pode ser
ofuscado diante das críticas dos que, no fundo, querem ser como você.
Se
você, que teve o acompanhamento da sua família, que tem um rico
patrimônio pessoal e o apoio de tanta gente, não consegue, como eles
poderiam acreditar que são capazes de seguir em frente, apesar de tantas
batalhas que têm de enfrentar a cada dia?
Eu
não falo a eles do Messi que joga maravilhosamente, mas sim daquele que
treinou milhares de lançamentos para conseguir colocar a bola nesse
ângulo inalcançável para qualquer goleiro; falo do Messi que suportou,
sendo um menino como eles, tantas dolorosas agulhas para continuar de
pé, correndo atrás daquilo que amava; falo do Messi que ajuda outras
crianças como eles nas suas diversas dificuldades; falo do Messi homem, o
que constituiu uma família e lida todos os dias com o papel mais
importante, que é ser um bom pai; (...) falo do Messi que pode errar até
falhando num pênalti, porque todas as pessoas estão feitas de falhas e
isso lhes mostra que até o maior de todos é imperfeito.
(...)
Não se renda, não deixe que meus guris sintam que ficar em segundo
lugar é uma derrota, que o valor das pessoas está no que têm nas
prateleiras, que perder um jogo é perder a glória.
Meus
alunos precisam entender que os mais nobres heróis, sem importar se são
médicos, soldados, mestres ou jogadores de futebol, são os que dão o
melhor de si mesmos para o bem-estar dos outros, mesmo sabendo que
ninguém lhes dará mais valor por isso (...), e ainda assim tentam. Mas
sobretudo, que as pessoas têm heroísmo e valentia, quando lutam e
superam as perdas com coragem e integridade, mesmo que seja com o
universo inteiro dizendo que não é possível. E um dia deparam com a
maior das vitórias: ser felizes sendo eles mesmos, sem reclamar de
quantos demônios tiveram que enfrentar para conseguir.
Todos falam de bolas, eu acredito na força do seu coração.”
Fonte-G1, Andrea Ramal
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