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terça-feira, 1 de novembro de 2016
INSS suspende auxílio-doença de segurada com câncer
Roberta Souza, de 33 anos, e a filha Thalita, de cinco anos: ‘Apoio familiar e carinho me mantêm de pé’
Maíra Coelho / Agência O Dia
Martha Imenes
Rio
- Na teoria, segurados do INSS que fazem perícia médica e vão passar
pelo pente-fino devem levar no dia do atendimento atestados, laudos, e
exames. Este pequeno dossiê deve ter todo o histórico do paciente para
agilizar e facilitar o exame. Mas na prática, não é isso o que ocorre em
alguns casos, devido a erros de servidores.
Diagnosticada
com Linfoma de Hodgkin em julho passado, a operadora de telemarketing
Roberta Souza Reis Martho de Souza, 33 anos, de Realengo, não acreditou
quando saiu da sala da perícia na agência do INSS de Bangu e viu que seu
auxílio-doença foi cancelado.
Roberta, mãe de uma menina de 5 anos, investiga
desde 2004 as causas de sua enfermidade. “Idas e vindas de hospitais,
diversos diagnósticos, internações e somente agora descobriram o que eu
tenho”, afirma Roberta, que iniciou o tratamento de quimioterapia.
O
Linfoma de Hodgkin é uma forma de câncer que ataca os gânglios do
sistema linfático, o mesmo que o governador Luiz Fernando Pezão está
tratando. Ela conta que faz as perícias regularmente e que sempre leva
laudos médicos, exames, atestados, inclusive o que iniciou o tratamento
quimioterápico, para ser avaliado pela perícia do INSS.
“A médica
me examinou, viu que estou com um acesso (catéter para facilitar a
aplicação dos medicamentos da quimioterapia) e me deu um papel para ser
entregue no balcão e pegar o resultado da perícia”, conta. “E foi no
balcão que fui informada que meu auxílio-doença estava cancelado. Ainda
tentei voltar para falar com a médica, mas o segurança impediu. A médica
nem olhou meus exames”, diz perplexa.
REANÁLISE
De
acordo com Roberta, no próprio posto do INSS orientaram a dar entrada
em uma reanálise de perícia, mas só tem vaga para janeiro. No relatório
do atendimento apresentado à perícia, o médico que atende Roberta
informa sobre o início do tratamento quimioterápico.
Roberta poderá entrar com ação por dano moral contra o INSS
Maira Coelho / Divulgação
“É desumando o que fazem. Não posso sequer ter
contato com a rua por conta da imunidade baixa, em dias de quimioterapia
tenho náuseas, fico mal. Como estou apta a trabalhar?”, questiona.
O DIA
procurou o INSS para saber o motivo da suspensão do auxílio-doença de
Roberta. Por e-mail, informaram que “não houve suspensão do benefício,
pois a mesma realizou perícia de prorrogação do benefício no dia
24/10/2016, sendo a mesma deferida.Acontece que por um erro de digitação
a data de limite médico ficou pretérita, ou seja, para antes da
perícia, provavelmente o perito digitou o ano de maneira equivocada”.
O
INSS informou ainda que “a revisão do benefício será realizada e o
status do benefício alterado”. E garante que “não haverá prejuízo para a
segurada”. Até o fechamento desta edição, o benefício da segurada não havia sido restaurado no sistema do INSS. Defensoria da União critica suspensão
O
atendimento nos postos do INSS tem sido alvo de questionamento da
Defensoria Pública da União (DPU). Para o órgão, o pente-fino de
auxílios-doença concedidos judicialmente prejudica não só a concessão de
novos benefícios, mas também as perícias médicas feitas fora do
programa de revisão. Procurado pelo DIA o defensor público federal
Daniel Macedo afirmou que “a justificativa do erro de digitação
apresentada pelo INSS revela um processo realizado a ‘toque de caixa’,
no improviso.
“Ganham o INSS e os peritos. O povo perde”, afirma,
referindo-se ao bônus de R$ 60 que os peritos ganham por perícia extra
no pente-fino.
“O caso da senhora Roberta é exemplo do que uma
revisão açodada pode ocasionar. O câncer, por si só, já asfixia a
dignidade da paciente. Quando se tem benefício suspenso neste caso, é
óbvio que a pessoa é duplamente marcada. Uma pela injustiça da revisão e
outra pela ausência do benefício, onde a prestação do serviço está
precarizado”, diz.
“É lamentável a situação do segurado que, além
de conviver com a doença, fica submetido à análise fria de um sistema
que treina seus profissionais para se tornarem desumanos e insensíveis
às evidências comprovadas por documentos. Dão alta sem critério”, afirma
Roberta.
Entre as medidas a serem tomadas, caso o benefício não
seja restabelecido, o defensor não descarta entrar com pedido de
indenização por dano moral. “Principalmente se houver agravamento do
estado de saúde diante do corte do benefício”, diz o defensor. INVALIDEZ Direito a bônus temporário O
aposentado por invalidez que está afastado há mais de cinco anos e
tiver seu benefício suspenso após fazer perícia terá direito a um abono
temporário por até 18 meses.
O pagamento do abono é previsto pelo
Artigo 47 da Lei 8.213/91 e será pago conforme o tempo em que o segurado
ficou afastado e de acordo com o seu vínculo de trabalho antes da
incapacidade que o afastou do emprego.
Se o benefício do INSS foi
recebido por mais de cinco anos, considerando o tempo de auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez, o bônus será devido por um ano e meio e
será reduzido de forma gradativa.
Para fazer jus ao pagamento é
preciso que o segurado do INSS tenha sido aposentado por invalidez. Se
recebeu somente o auxílio-doença, não terá direito ao abono, segundo a
legislação vigente.
De acordo com a regra do INSS, também não tem
direito a receber o bônus o segurado que ficou afastado por menos de
cinco anos do trabalho, quem estava com a carteira assinada quando
começou a receber o benefício por incapacidade e também quem pode
retornar ao trabalho. SEGUNDA ETAPA Benefícios por invalidez serão revisados em março
Mais
de 1,2 milhão de aposentados que recebem benefícios por invalidez
concedidos há mais de dois anos passarão por um o pente-fino do INSS a
partir de março, após a primeira etapa das revisões feitas em
auxílios-doenças liberados pela Justiça que está em andamento. Os
aposentados também serão convocados por carta. Quem tem mais de 60 anos
de idade não será chamado pela Previdência.
Segurados do INSS que
recebem auxílio-doença e que fizeram perícia médica há menos de dois
anos ficarão de fora desta convocação. O governo estima que 285,7 mil
segurados não precisam fazer o pente-fino.
No Rio, serão
convocados 129.914 segurados, sendo 41.344 com auxílios-doença e outros
88.570 com aposentadorias por invalidez, de acordo com o INSS. Dos
530.157 auxílios-doença, 99,2% foram concedidos pela Justiça, o que
representa 525.897 auxílios.
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