sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Exposição O Som da Tinta promove acessibilidade cultural para surdos e deficientes visuais

Débora Fogliatto

No quarto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, na sala Radamés Gnatalli, uma voz vinda de um aparelho de som explica a proposta dos pequenos quadros feitos com xilogravura. São o resultado e a audiodescrição do projeto O Som da Tinta, promovido a partir de oficinas realizadas com pessoas com deficiência visual e auditiva. Iniciativa do Estúdio Hybrido com a professora Ana Cristina Meneghetti e a Tagarellas Audiodescrição, a mostra fica exposta até este domingo (17).
Ao perceber a falta de opções culturais para pessoas surdas, a professora de história Ana Cristina resolveu promover ela mesma uma iniciativa que permitisse que eles fossem protagonistas da arte. A historiadora, que se interessou pela acessibilidade ao conhecer uma colega surda, fez curso de libras, especialização em Educação Especial, curso de intérprete, de audiodescrição e atualmente cursa mestrado em Comunicação Acessível.


Após trabalhar em diversas escolas para surdos em Gravataí e Porto Alegre, ela ingressou no colégio Frei Pacífico, em 2011, onde começou a pesquisar ambientes culturais acessíveis para levar seus alunos. Ana levou os estudantes à Bienal do Mercosul, onde ela mesmo serviu como intérprete e percebeu a falta de acessibilidade. Foi também nessa ocasião que a professora entrou em contato com Marcelo Monteiro e Vanessa Berg, fundadores do Estúdio Hybrido, que posteriormente foram seus parceiros para as oficinas. “Começamos a conversar sobre a possibilidade de fazermos atividades com meus alunos surdos, para eles terem acesso à arte e ao mundo artístico de Porto Alegre, e quem sabe até seguir carreira”, conta Ana.

Enquanto realizava algumas oficinas de xilogravura, junto com o Estúdio Hybrido, para seus alunos surdos, Ana se formou como audiodescritora para deficientes visuais e passou a ter contato com essa comunidade. O grupo Tagarellas, que ajudou na sua formação, entrou como parceiro para dar continuidade ao projeto, promovendo oficinas também para deficientes visuais. “A questão da xilogravura caiu como uma luva para deficiência visual, principalmente pela questão tátil. A matriz da xilogravura pode ser tocada e foi impressa em um papel especial para ficar em auto revelo”, explica a professora.

Na Bienal de 2013, Ana trabalhou como assessora de acessibilidade, em um projeto piloto que será ampliado para a próxima edição. Ela acredita que a questão da acessibilidade cultural esteja muito prematura no Rio Grande do Sul, inclusive em relação com outros estados brasileiros. “Não é por falta de público que esses espaços não recebem essas pessoas, é por falta de conscientização da classe artística e dos órgãos públicos, do estado e de Porto Alegre. Os próprios espaços culturais têm que começar a colocar isso em suas pautas”, critica. Para projetos futuros, a professora pretende ampliar as oficinas para outras formas de arte, como a fotografia.

As oficinas tiveram muita procura pelas comunidades de deficientes auditivos e visuais. Enquanto a maioria dos surdos eram alunos e ex-alunos de Ana, jovens que cursam o Ensino Médio, os deficientes visuais eram adultos. “As oficinas tiveram filas enormes de espera, poderíamos ter aberto quantas turmas quiséssemos. Mas não tínhamos recursos, todo o projeto foi feito no amor, nós mesmos gastamos no material”, conta Ana. Agora, ela e seus parceiros buscam conseguir oportunidades em editais culturais do governo, para que possam dar continuidade e oferecer oficinas de forma gratuita para pessoas com deficiência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tradução