Em uma iniciativa inédita na história da área de Educação
Especial no Brasil, um grupo formado por mais de 200 pesquisadores está
trabalhando de forma conjunta no Observatório Nacional de Educação Especial
(ONEEsp), criado em 2010 e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes). O Observatório é uma rede de pesquisa que
envolve 24 universidades de 18 Estados do País, sob coordenação de Eniceia
Mendes, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar. Entre os
integrantes da rede estão professores e estudantes de graduação e pós-graduação
espalhados por 59 municípios brasileiro. O objetivo é mapear de forma integrada
a educação de estudantes com deficiências e, atualmente, o grupo avalia o
programa de implantação de serviços de apoio do Ministério da Educação (MEC).
Até a década de 1960, a Educação Especial no Brasil
acontecia primeiramente em escolas filantrópicas e particulares e, depois, em
classes especiais dentro das escolas regulares da rede pública de ensino. Há
apenas poucos anos teve início a construção da Educação Especial nos moldes
conhecidos atualmente, integrada ao ensino regular. No entanto, embora
projeções indiquem que o país pode ter de 5 a 10 milhões de pessoas em idade
escolar com deficiências, segundo o Ministério da Educação apenas 700 mil estão
matriculadas nas escolas públicas brasileiras.
Em seu estudo inaugural, realizado há três anos e com
previsão de término em 2014, os pesquisadores do ONEEsp trabalham com o
objetivo de produzir conhecimento em larga escala para avaliar se as políticas
de Educação Especial em implantação são efetivas ou não e, também, para definir
caminhos que possam ser tomados para aprimoramento dos processos de inclusão
escolar. Especificamente, o Observatório analisa a implantação das Salas de
Recursos Multifuncionais (SRM) em escolas públicas das redes de ensino.
Oferecidas pela Secretaria de Educação Especial do MEC, hoje já são mais de
15.500 SRMs em todo o País, divididas entre cerca de 4.500 municípios
brasileiros. Para implantação das SRMs, é disponibilizado às escolas um
conjunto de equipamentos de informática, mobiliários, materiais pedagógicos e
de acessibilidade para a organização do espaço de atendimento educacional
especializado.
Para o estudo do Observatório, foram realizadas
entrevistas com mais de 2.500 professores das SRMs. Eniceia Mendes conta que a
primeira etapa foi a avaliação de como as crianças são identificadas. Segundo a
pesquisadora, percebe-se que as escolas têm dificuldade de identificar crianças
com deficiência intelectual ou superdotação devido à falta de diretrizes. “Há
dificuldade também com relação à avaliação para o planejamento do ensino desses
alunos, de modo que a estadia deles na sala de aula comum e nas salas com
recursos multifuncionais tenha um projeto de escolarização integrado”, relata
Mendes. Apesar de ainda estar em andamento, a pesquisa também aponta problemas
na avaliação do rendimento, já que as escolas não realizam provas adaptadas.
“Muitas escolas acham que a criança com deficiência intelectual está na sala de
aula apenas para socializar, e não para aprender”, conta a coordenadora do
Observatório.
Outro eixo pesquisado foi a formação de professores para
a Educação Especial. Atualmente, no Brasil, há apenas dois cursos de
licenciatura em Educação Especial, sendo um oferecido pela UFSCar e outro pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e apenas um programa de
pós-graduação, também oferecido pela UFSCar. “Faltam professores para trabalhar
com essas crianças e os educadores que trabalham não estão preparados, pois não
há opções de formação no Brasil. Os próprios professores não se sentem aptos a
ensinar essas crianças nas salas de recursos”, afirma Mendes. Segundo ela, sem
nenhum padrão previsto, cada professor pode trabalhar da maneira como achar
melhor nas SRMs. Além disso, um dos desafios encontrados diz respeito à
diversidade do público, já que, nas salas, o professor atende alunos com
deficiências variadas. “O professor não sabe o que fazer para complementar a
escolarização das crianças. Uns trabalham com atividades lúdicas, outros
preferem ensinar atividades diárias, como comer e lavar as mãos”, relata
Eniceia.
Com a coleta de dados concluída, agora os pesquisadores
estão sistematizando o conjunto de informações recolhidas. O projeto do
Observatório, segundo a coordenadora, é apontar o problema e sua solução. “Se
nós ficarmos só na denúncia, não contribuímos com a área e com o avanço em
relação ao direito à educação dessas crianças. O Observatório, como se aproxima
muito dos professores e da rede pública, consegue identificar as demandas de
formação e, também, como a universidade pode contribuir”, conclui Mendes.
Mais informações sobre o Observatório, incluindo
documentos produzidos por seus pesquisadores, podem ser consultado no site do
projeto, em www.oneesp.ufscar.br.
Fonte-Fernanda Zago e Ufscar
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