Por Manuela Dantas
No último domingo fui à missa na capela de Nossa Senhora
das Graças e, novamente, vi um garoto, de aproximadamente 10 anos, que
costumeiramente me chama a atenção por transmitir uma alegria de viver difícil
de encontrar no nosso dia a dia. Vejo sempre aquele menino ajudando no
ofertório da missa, e na verdade esse garotinho com síndrome de down me encanta
por demonstrar uma felicidade incrível em participar ativamente da vida em
sociedade.
O exemplo do garotinho sempre me emociona. De fato, penso
que esse exemplo é uma das formas mais importantes de inclusão, ou seja,
sentir-se fazendo parte, em igualdade de condições, da vida em sociedade.
Esse menino, fez-me lembrar da missão que recebi em 2011
quando retornei ao trabalho após o período de reabilitação física em São Paulo.
Naquela ocasião receava que meus antigos parceiros de
trabalho me olhassem diferente, já que eu estava paraplégica e que não me
impusessem desafios compatíveis com as minhas capacidades. Mas, o tempo e a
minha determinação foi mostrando aos meus colegas que apesar de estar na
cadeira de rodas eu continuava a mesma e nada podia me deixar mais feliz do que
continuar a contribuir, com o meu trabalho, para a vida em sociedade.
Quis o destino, que eu assumisse a coordenação de um
projeto para a construção de uma Escola de Música e da Sala de Concertos da
Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque.
Eu já tinha ouvido falar sobre o projeto social da
Orquestra Criança Cidadã, mas conhecia pouco sobre o mesmo, sabia apenas que
era um projeto com música e com crianças do Coque, um bairro super violento de
Recife, mas precisava conhecer mais e melhor esse projeto, decidi, então, ir ao
Exército no Cabanga, aonde funciona a orquestra e conhecer de perto aqueles
meninos músicos.
Lá, deparei-me, inicialmente, com um garoto de 10 anos
sentado embaixo de uma árvore a tocar lindamente um violino, mais adiante vi
uma garotinha de 7 anos carregando o seu instrumento e indo rapidamente em
direção a sala de aula, cheguei, então, ao pequeno auditório no qual
escutei belíssimas músicas,
interpretadas pela Orquestra Criança Cidadã, de Luiz Gonzaga, Gardel,
Pixinguinha e Vivaldi.
Surpreendeu-me que aquelas crianças e adolescentes tão
talentosos e disciplinados eram oriundos do Coque, uma das comunidades com
menores IDH do Recife e que agora tinham mais do que uma oportunidade, estavam
completamente inseridas socialmente por meio da música.
Para quem não conhece o Coque em Recife, infelizmente,
essa é uma região estigmatizada pela violência, pela alta taxa de desemprego,
pelas construções precárias, pelas numerosas famílias miseráveis. Isto sem
mencionar a prática de receptação de objetos roubados, prostituição de menores,
gravidez na adolescência, evasão escolar e alto índice de analfabetismo, num
ambiente de devastadora desestruturação familiar, num universo de mais de 40
mil habitantes.
É uma daquelas regiões à margem da margem e que
necessitam de uma ação modificadora.
Em meio a esse ambiente inóspito, o projeto da Orquestra
Criança Cidadã direciona seus alunos para a cidadania, dando-lhes uma
profissionalização musical e, por conseguinte, uma vida social digna, bem diferente
da que possuem atualmente.
Nesse cenário, a
Orquestra acaba contribuindo também para a segurança pública da área e
da cidade, posto que a marginalidade da comunidade do Coque causa terror em
toda a área urbana do Recife, na medida em que este projeto social colabora com
o rompimento do ciclo de criminalidade que permeia a comunidade do Coque e
inspira os jovens e crianças a pensarem em si mesmos como detentores de muitas
potencialidades.
Foi por esse motivo que, naquela ocasião, apaixonei-me pelas
ideias e pelos sonhos de ampliar aquele tão importante projeto de inclusão
social e tomei como minha aquela missão que a Odebrecht Infraestrutura e que a
Orquestra Criança Cidadã me confiaram.
Atualmente, a Escola de Música da Orquestra Criança
Cidadã ocupa as salas adaptadas no 7º Depósito de Suprimentos do Exército
(DSUP), o que é uma ação de solidariedade do exército gratificante para todos
nós. As instalações atuais oferecem abrigo e oportunidade aos alunos, mas têm
limitações técnicas para o processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, além da
necessidade de expansão do projeto que hoje possui 160 alunos e será ampliado
para 300 alunos na nova sede. Ou seja, a Escola atualmente tem uma instalação
provisória.
A instalação planejada para a Nova Sede da Escola de
Música da Orquestra Criança Cidadã e para a Sala de Concertos Criança Cidadã,
com capacidade para 816 pessoas e que será a Primeira Sala de Concertos
Totalmente Acústica do Norte e Nordeste, será realizada numa área estigmatizada
o que representa a confirmação e comprometimento de toda a sociedade
pernambucana com o desejo de mudança. Ademais, não faltam exemplos ao redor do
mundo da capacidade modificadora deste tipo de projeto, seja para os usuários,
seja para o sítio urbano em que estão inseridos.
Nesse cenário de inclusão e de ativadores da força
modificadora da sociedade, juntaram-se a Orquestra Criança Cidadã e a Odebrecht
Infraestrutura parceiros fortes e solidários a essa causa justa e necessária,
como por exemplo, o BNDES, a Odebrecht Realizações Imobiliárias, a Cósmica
Entretenimento, o Arquiteto Carlos Fernando Pontual, o Arquiteto José Augusto
Nepomuceno, os Projetistas Bernardo Horowitz e Carlos Calado, o Projetista de
instalações Eliel Rômulo, o arquiteto especialista em cozinhas Antônio
Figueiredo, que doaram seu trabalho ao elaborarem excelentes projetos que
proporcionaram a aprovação pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura do Projeto
da Escola de Música e da Sala de Concertos.
Todos esses agentes em conjunto promoveram a criação de
um lindo sonho, que agora está bem perto de se tornar realidade, o sonho de
ampliar o projeto da Orquestra Criança Cidadã, que contribui para retirar as
crianças das ruas oferecendo uma perspectiva de profissionalização e inserção
social por meio da música.
Não por acaso, as atividades ligadas à música envolvem
superação, descobertas, trabalho solitário e em grupo, para finalmente receber
aplausos e consagração que raramente são recebidos por estes meninos em outras
condições.
Aplausos que merece o projeto e seus alunos, que em
apenas 7 anos de existência , já
possui 6 rapazes oriundos da Orquestra
hoje fazendo parte da Orquestra Sinfônica de Goiânia, aprovados em primeiros e
segundos lugar naquele concurso público.Impressiona também saber que mais 10
integrantes da Orquestra hoje cursarem o ensino superior na UFPE e na Aeso e
outros 4 que tiveram e têm a oportunidade de estudar música com bolsas de
estudo na Europa.
Isto posto, findo esse artigo com a seguinte reflexão de
Pitágoras: "Educai as crianças e não precisarás punir os homens".
Eis o nosso sonho!
Fonte-Blog de Jamildo
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