segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sobre Crianças e Cidadania

Por Manuela Dantas

No último domingo fui à missa na capela de Nossa Senhora das Graças e, novamente, vi um garoto, de aproximadamente 10 anos, que costumeiramente me chama a atenção por transmitir uma alegria de viver difícil de encontrar no nosso dia a dia. Vejo sempre aquele menino ajudando no ofertório da missa, e na verdade esse garotinho com síndrome de down me encanta por demonstrar uma felicidade incrível em participar ativamente da vida em sociedade.

O exemplo do garotinho sempre me emociona. De fato, penso que esse exemplo é uma das formas mais importantes de inclusão, ou seja, sentir-se fazendo parte, em igualdade de condições, da vida em sociedade.

Esse menino, fez-me lembrar da missão que recebi em 2011 quando retornei ao trabalho após o período de reabilitação física em São Paulo.

Naquela ocasião receava que meus antigos parceiros de trabalho me olhassem diferente, já que eu estava paraplégica e que não me impusessem desafios compatíveis com as minhas capacidades. Mas, o tempo e a minha determinação foi mostrando aos meus colegas que apesar de estar na cadeira de rodas eu continuava a mesma e nada podia me deixar mais feliz do que continuar a contribuir, com o meu trabalho, para a vida em sociedade.

Quis o destino, que eu assumisse a coordenação de um projeto para a construção de uma Escola de Música e da Sala de Concertos da Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque.

Eu já tinha ouvido falar sobre o projeto social da Orquestra Criança Cidadã, mas conhecia pouco sobre o mesmo, sabia apenas que era um projeto com música e com crianças do Coque, um bairro super violento de Recife, mas precisava conhecer mais e melhor esse projeto, decidi, então, ir ao Exército no Cabanga, aonde funciona a orquestra e conhecer de perto aqueles meninos músicos.

Lá, deparei-me, inicialmente, com um garoto de 10 anos sentado embaixo de uma árvore a tocar lindamente um violino, mais adiante vi uma garotinha de 7 anos carregando o seu instrumento e indo rapidamente em direção a sala de aula, cheguei, então, ao pequeno auditório no qual escutei  belíssimas músicas, interpretadas pela Orquestra Criança Cidadã, de Luiz Gonzaga, Gardel, Pixinguinha e Vivaldi.

Surpreendeu-me que aquelas crianças e adolescentes tão talentosos e disciplinados eram oriundos do Coque, uma das comunidades com menores IDH do Recife e que agora tinham mais do que uma oportunidade, estavam completamente inseridas socialmente por meio da música.

Para quem não conhece o Coque em Recife, infelizmente, essa é uma região estigmatizada pela violência, pela alta taxa de desemprego, pelas construções precárias, pelas numerosas famílias miseráveis. Isto sem mencionar a prática de receptação de objetos roubados, prostituição de menores, gravidez na adolescência, evasão escolar e alto índice de analfabetismo, num ambiente de devastadora desestruturação familiar, num universo de mais de 40 mil habitantes.

É uma daquelas regiões à margem da margem e que necessitam de uma ação modificadora.

Em meio a esse ambiente inóspito, o projeto da Orquestra Criança Cidadã direciona seus alunos para a cidadania, dando-lhes uma profissionalização musical e, por conseguinte, uma vida social digna, bem diferente da que possuem atualmente.

Nesse cenário, a  Orquestra acaba contribuindo também para a segurança pública da área e da cidade, posto que a marginalidade da comunidade do Coque causa terror em toda a área urbana do Recife, na medida em que este projeto social colabora com o rompimento do ciclo de criminalidade que permeia a comunidade do Coque e inspira os jovens e crianças a pensarem em si mesmos como detentores de muitas potencialidades.

Foi por esse motivo que, naquela ocasião, apaixonei-me pelas ideias e pelos sonhos de ampliar aquele tão importante projeto de inclusão social e tomei como minha aquela missão que a Odebrecht Infraestrutura e que a Orquestra Criança Cidadã me confiaram.

Atualmente, a Escola de Música da Orquestra Criança Cidadã ocupa as salas adaptadas no 7º Depósito de Suprimentos do Exército (DSUP), o que é uma ação de solidariedade do exército gratificante para todos nós. As instalações atuais oferecem abrigo e oportunidade aos alunos, mas têm limitações técnicas para o processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, além da necessidade de expansão do projeto que hoje possui 160 alunos e será ampliado para 300 alunos na nova sede. Ou seja, a Escola atualmente tem uma instalação provisória.

A instalação planejada para a Nova Sede da Escola de Música da Orquestra Criança Cidadã e para a Sala de Concertos Criança Cidadã, com capacidade para 816 pessoas e que será a Primeira Sala de Concertos Totalmente Acústica do Norte e Nordeste, será realizada numa área estigmatizada o que representa a confirmação e comprometimento de toda a sociedade pernambucana com o desejo de mudança. Ademais, não faltam exemplos ao redor do mundo da capacidade modificadora deste tipo de projeto, seja para os usuários, seja para o sítio urbano em que estão inseridos.

Nesse cenário de inclusão e de ativadores da força modificadora da sociedade, juntaram-se a Orquestra Criança Cidadã e a Odebrecht Infraestrutura parceiros fortes e solidários a essa causa justa e necessária, como por exemplo, o BNDES, a Odebrecht Realizações Imobiliárias, a Cósmica Entretenimento, o Arquiteto Carlos Fernando Pontual, o Arquiteto José Augusto Nepomuceno, os Projetistas Bernardo Horowitz e Carlos Calado, o Projetista de instalações Eliel Rômulo, o arquiteto especialista em cozinhas Antônio Figueiredo, que doaram seu trabalho ao elaborarem excelentes projetos que proporcionaram a aprovação pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura do Projeto da Escola de Música e da Sala de Concertos.

Todos esses agentes em conjunto promoveram a criação de um lindo sonho, que agora está bem perto de se tornar realidade, o sonho de ampliar o projeto da Orquestra Criança Cidadã, que contribui para retirar as crianças das ruas oferecendo uma perspectiva de profissionalização e inserção social por meio da música.

Não por acaso, as atividades ligadas à música envolvem superação, descobertas, trabalho solitário e em grupo, para finalmente receber aplausos e consagração que raramente são recebidos por estes meninos em outras condições.

Aplausos que merece o projeto e seus alunos, que em apenas  7 anos de existência , já possui  6 rapazes oriundos da Orquestra hoje fazendo parte da Orquestra Sinfônica de Goiânia, aprovados em primeiros e segundos lugar naquele concurso público.Impressiona também saber que mais 10 integrantes da Orquestra hoje cursarem o ensino superior na UFPE e na Aeso e outros 4 que tiveram e têm a oportunidade de estudar música com bolsas de estudo na Europa.

Isto posto, findo esse artigo com a seguinte reflexão de Pitágoras: "Educai as crianças e não precisarás punir os homens".

Eis o nosso sonho!


Fonte-Blog de Jamildo

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